sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O Poema que Não te Escrevi (Feliz 2010)

Matola, 18 de Dezembro de 2009

Companheiros,

Estamos em Dezembro. Corremos. Corremos por causa do trabalho, corremos pelas festas, corremos pela vida, corremos pela família. A verdade é que corremos. E corremos muito. Nessa longa correria só não devemos nos esquecer de dizer aos nossos amigos o quanto os estimamos, o quanto os queremos bem e o quão bem queremos que passem as festas. Eu não podia esquecer. Eis me aqui vos desejando tudo isso, MUITO DINHEIRO e juízo.

2009 se vai, 2010 vem ai e já que se discute aquecimento global, deixo vos com o o Poema que não vos escrevi em 2009 (também já publicado aqui).

O Poema Que Não te Escrevi


Acredito que o amor é eterno!

Terei todo o tempo do mundo para te escrever um poema de amor.

Este é o poema que não te escrevi. Não tenho tempo para te falar das flores e da água do mar. O mundo está em chamas e nós marchamos nas avenidas universais apelando pela paz.

Formamos movimentos anti-globalização ou pela globalização cooperativa em que não só consumimos macdonald como também oferecemos xigubo. E de bandeiras em punho seguimos na frente de combate apelando para o fim da guerra e para redistribuição da riqueza por partes iguais. Somos guerreiros modernos que ainda acreditam que o movimento cívico é das armas mais letais.

Não tenho tempo para te escrever um poema meu amor!

Acreditava que a nossa causa era justa, que iríamos vencer para oferecermos um mundo melhor aos nossos filhos. Aí, todas as noites antes de dormirmos faríamos amor e te recitaria poemas ao amanhecer sem medo e sem ver nas televisões noticiários de guerra, sem me envergonhar pelas tristes imagens de Darfur. Dizias-me que essa era utopia de homens modernos que não aceitam ser comunistas mas continuam a perseguir o sonho vermelho em shows de Bono Vox e Bob Geldof. Pode ser meu amor, mas a minha ideologia é um comunismo capitalista!

O show vai acabar meu amor, aí iremos a beira-mar ver o pôr-do-sol e te escrever um poema de amor.

Agora não tenho tempo para te escrever esse poema!

Agora tenho de escrever meu manifesto para a Nina. Ela não entende poemas de amor, ela não entende linguagem de paz e amor enquanto vê uma imagem chocante de G-8 em volta a uma mesa farta em que os líderes não comem por não saberem o que comerem enquanto de outro lado, no vale de Níger onde se sente o rico cheiro de petróleo há muita gente que não come por não ter o que comer.

Agora não posso te escrever um poema de amor!

Tenho de falar dos homens sem tecto que sonharam com um país melhor e o máximo que conseguiram foi uma bala no seu corpo e um despachado caixão de seus companheiros de luta enterrado debaixo da terra como tecto.

Achas que me resta tempo para te escrever um poema de amor?

Quando o mundo for melhor, te escreverei um poema de amor. Falarei do seu corpo a escaldar enquanto te contorces de prazer, qual sol sobre África em tempo de aquecimento global.

Vês meu amor, agora só sei falar de aquecimento global, só sei falar do protocolo de Quioto, só sei falar de questões ambientais que vão dando cabo deste continente, da água que será a principal causa da guerra.

O poema que não te escrevi, fala das crianças a correrem no meu país sem medo de bombas sem temerem a diplomacia de guerra. O poema que não te escrevi fala dos teus olhos a brilharem por não teres a preocupação do que comer amanhã.

Poema que não te escrevi é um poema de paz e amor!


quarta-feira, 4 de novembro de 2009

História da Vida Privada

As vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas... O tempo

passa... e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas

pequenas demais para torná-los reais!

Bob Marley

Ao velho General

Matola, 4 de Novembro de 2009

Meu velho general,

Desta minha Matola onde Basílio Muhate e Milton Machel, sem compreenderem como nós os dois que é bom criar trincheiras, dizem que fico a me fantasmagorizar, te escrevo esta carta de quem nunca percebeu para quê servem as armas, muito menos as guerras.

Mas há tanta coisa que eu não percebo meu general. Por exemplo como é que não consegues compreender que o jogo acabou mesmo depois do apito final.

Quando falo do jogo me recordo de uma entrevista que deste na TVM, há anos para o programa “Estamos Juntos”, penso que era esse, de Emílio Manhique onde falavas do teu amor pelo futebol e que não gostavas por nada de perder.

Me disseram que também és do Ferroviário, General. Penso que agora que mudaste a capital para Nampula dificilmente irás ao Estádio da Machava. Eu também não iria General, aliás, também não vou apesar do Estádio estar no quintal da minha casa.

Mas o senhor tem outras razões para não se dirigir a Machava. Não se pode trocar Nampula pela Machava.

Olha General, eu percebo a tua vontade de mudar a capital para Nampula. Eu também se tivesse o mesmo poder que o senhor o faria. Não quero acreditar que seja por razões políticas. Há coisas mais importante que política. A minha amiga Ani, romântica como ela sempre foi diria mesmo que há coisas mais importantes que política e dinheiro e nós os dois sabemos o que é.

Se meu amigo Egídio Vaz, um ilustre bicho político, viesse me dizer que a política está em tudo, ficaríamos logo com a certeza que ele nunca foi a Nampula com espírito de um verdadeiro cavalheiro.

Em Nampula aprende-se a saborear com os olhos o mais puro da beleza sensual. É só te pendurares num dos postes das velhas ruínas da Ilha de Moçambique para te deliciares com a sensualidade da dança de um feminino corpo macua, como as senhoras do grupo Estrela Vermelha. Sabe general que sempre que olho para aquelas mulheres dançar com toda aquela levaza chego a pensar que elas controlam o tempo?

Sim, lá se controla o tempo. Pelo menos elas controlam o tempo, elas ditam as regras e tu te apaixonas, soltas o verbo e pensas que caçaste quando não passas de uma presa.

Penso que um homem honesto e de uma boa família, isto só para não dizer bem-educado, não pode ir a Nampula casado. Em Nampula não se vai casado casa-se lá.

Voltando aquela entrevista, General, eu percebo hoje o porquê da promessa de pôr o país a “arder chama”.

Mas no lugar de olhar para o que os outros fizeram para que o senhor não ganhasse estas eleições, porquê não prestar atenção àquilo que o General fez para perder.

Penso General que o senhor não se apercebeu que uma luta política não se ganha com as mesmas estratégias de guerrilha. Penso que se esqueceu de se desmobilizar. Se esqueceu da famosa frase de “um homem válido na guerra é inválido na paz.”

O senhor conseguiu manter-se líder. Mas faltou dar sustento a essa figura de “líder” que sempre ostentou.

Repetiu a ideia de ser mais jovem e mais bonito como se eleições fossem concursos de beleza e porte físico.

Nos 45 dias de campanha eleitoral, meu General, o senhor fez um clássico passeio pela zona norte, só para não dizer Nampula, deixando poucas horas para sul. A sua explicação na entrevista da RDP – África foi de que sul representa 22% da capacidade eleitoral.

General, nunca ouviu os economistas dizerem “cuidado com os pequenos furos porque fazem grandes rombos”?

Não General, acho que a sua estratégia, pode até ter sido boa em termos militares mas politicamente não funciona. Não funcionou General!

A prova disso são os discursos agressivos que o senhor faz e os seus acólitos, Banrarano e Ivone Soares fazem eco.

Mas como o senhor mesmo diz, esses são miúdos. Me preocupa mais o que o senhor como líder diz.

Repetiu várias vezes que era pai da Democracia. Não se preocupou por essa menina “Democracia” nascesse de uma mãe incógnita. Teve todas as oportunidades para a abortar mas preferiu deixa-la crescer para a assassinar agora.

É general, vê que isso não faz sentido?

O senhor diz que ainda tem idade para se candidatar. Acredita que um dia será Presidente desta República como o foi Lula da Silva. Para mim o General está mais próximo Jean-Marie Le Pen.

Sei que não tenho direito de me meter na vida do seu partido, mas acho que é hora exacta para sair de mansinho e irmos sentar na nossa nova capital apreciar o que de mais belo há lá.

Aquele abraço

PC Mapengo

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Auxilio Incompreendido

Socorro, alguma alma, mesmo que penada

Me empreste suas penas.

Já não sinto amor nem dor

Já não sinto nada.

Socorro, alguém me dê um coração.

Que esse já não bate nem apanha.

Por favor, uma emoção pequena,

Qualquer coisa que se sinta,

Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva.

In CD “UM SOM” de Arnaldo Antunes

Ao marido da minha amante

Querido sócio, desta Matola onde construo meus sonhos, te escrevo para mostrar a minha indignação. O meu país está a atravessar um ímpar momento de campanha eleitoral. Falo de escolhas, sócio.

Eu não queria voltar ao assunto político neste meu canto a moda antiga. Sabes sócio que há uma onda de alianças dos excluídos com os candidatos não desqualificados e, logo, sérios (alguns hão de ser, de certeza)? É engraçado olhar para este cenário. E eu já me questionei sobre posições políticas dos nossos partidos.

Diga meu companheiro, podemos falar de esquerda direita ou partidos de centro no nosso cenário político? O que é que o PIMO ou os Ecologistas têm a ver com a FRELIMO? O que é que os que declararam apoio ao MDM têm a ver com este movimento? Fiz me, também, esta pergunta numa outra vertente como “o quê é que a União Democrática acrescentou a Renamo?”

Pelo menos sei que a Renamo deu a muitos dos líderes desses partidos oportunidade de se sentarem nos bancos do parlamento.

Mas não é contigo que me interessa discutir política.

Te escrevo para expressar a minha indignação pela forma como olhaste para o meu esforço cristão de ajudar o próximo, neste caso a tua linda mulher.

Chegaste companheiro, faiscando de ódio pelos versos mentirosos e maliciosos que ouviste pelos becos da tua vizinhança, e te atiraste sobre a minha fragilidade com a raiva de fera.

Não me deste oportunidade de me explicar. Era para ti o rosto hitleriano de uma guerra que ainda estava para começar. Estendi-me sobre o asfalto perante olhares sorridentes desses vizinhos que nunca compreenderam a minha relação altruísta para com a tua linda mulher.

Juro-te que só queria ajudar.

Sacrifiquei o tempo que devia, apaixonadamente, dedicar a minha mulher e as duas esbeltas namoradas, para poder tratar da tua mulher solitária e abandonada nas noites de Inverno que, durante dois anos a deixaste nos lençóis do teu quarto vazio.

Compreendes agora companheiro?

A minha missão foi cuidar do teu património enquanto te distanciavas por essas belas terras de rand onde se diz que a riqueza se tira debaixo do solo. É verdade? Nós cá corremos contra a pobreza e desejamos que o nosso solo deixe de servir simplesmente para enterrarmos os nossos mortos.

Bom, mas isso é uma outra história.

Olhe sócio. Mesmo depois de ter jurado nunca mais te voltar a dirigir a palavra, cedi a coação jeitosa da tua bela esposa para te pedir desculpa. Por mim, ficava neste silêncio sarcófago e, já que estás de volta a terra do rand, também abandonaria a tua mulher na solidão a que vivia antes, a ver se aprendias a agradecer os gestos generosos dos outros homens.

Mas como te disse antes, pela minha educação cristã, não gosto ver uma mulher a sofrer sem poder a ajudar. E isso companheiro, a tua paixão cega não permitiu observar.

Dizia meu sábio avô que uma casa tem que ter um homem por perto. Penso que tu nunca tiveste essa lição senão não abandonarias a tua bela dama em busca de uma fortuna nas terras dos outros.

Eu percebo essa necessidade de riqueza e queria que continuasses nessa busca com a certeza de que a tua casa está em boas mãos. Sempre esteve e tu não percebeste durante a semana que estiveste cá.

A tua fúria que se traduziu em socos violentos e repetidos insultos não te permitiram que te apercebesses do meu trabalho ao longo da tua ausência.

Soltaste verbos insultuosos e mesquinhos só para não agradeceres por ter ficado a matar cobra na tua casa. E nem te apercebeste que te ajudei a fazer um filho que não conseguias havia 6 anos depois do teu casamento.

Eu percebo a ingratidão.

Por tudo que partilhamos, aquele abraço.

PC Mapengo

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Comentador das Bananas: Virgílio Sithole Responde a Mapengo

Sobre o “Comentador das Bananas”

Virgílio Sitole
Jiamusi Universty - JU
Heilong Jiang Province
Republica Popular da China

Meu caríssimo irmão PC Mapengo, para mim Poly

Devo lhe confessar que me perdi no tempo e no espaço no que diz respeito às formalidades, quando se trata de escrever cartas, pior ainda, se tratando de “cartas a moda antiga”. Meu companheiro de longas jornadas, amigo, irmão, e se me permite, e todos os leitores do seu “cartas a moda antiga”, meu “Amor”. Os mal-intencionados poderão questionar esta costela que temos de “nos amar”, mas podem ficar tranquilos, somos homens que temos uma empatia e admiração um com o outro.

Meu irmão, confesso-lhe que mando este comentário hoje dia da “PAZ” na nossa Pérola do Indico, e deste pais mais populoso do mundo, onde me encontro a perseguir o “feitiço”, completo um mês me mordendo a língua todos os dias a tentar aprender o mandarim, esta língua difícil, mas não impossível, numa cidade que a temperatura chega a atingir – 30º C, onde os residentes se acotovelam para ter “um dedo de conversa” com um negro, alias, preto, -será que há diferença!!??, – que chatice meu até dá vontade de lhes… nikuxi pha…onde os escarros inundam tudo o que é rua, corredor, esquina…. Enfim, é nesta “esquina” do mundo que recebo sua carta intitulada “comentador das bananas”.

Meu irmão, feliz ou infelizmente, depende das circunstâncias e dos interesses, não pude acompanhar o debate/comentários na espectaculosa, mas tenho uma e única fonte, que é a sua carta, e vou tentar comentar/opinar, segundo o que me é oferecido e também socorrendo me dos conhecimentos que tenho do “comentarista mais procurado do momento” e das suas bananas…

Meu irmão, devo-lhe dar os meus parabéns por teres exercido o seu direito de cidadania e “irromper” no catalogado do “tudo óbvio, real e mais pura verdade da nossa Santa (?) Pátria Amada e difundido nos meios de comunicação social como a certeza divina ”.

Meu caro irmão, tenho respeito com todos seres humanos e desumanos, mas lhe confesso que antes de partir, discuti com os meus botões e a minha “caixinha mágica” num desses programas/comentários que são vivamente publicitados nas TVs. Sabes meu irmão, cheguei a conclusão, tinha que concluir, que alguns comentadores/analistas deviam ir a reforma ou darem umas voltas na “calibragem cerebral” pois, de tanto esforço que fazem para difundirem as suas filosofias e crenças, colocando-se como os donos da verdade e do saber, acabam por te levar a analogiar seus comportamentos e imbecilidades dogmáticas com a arte de coreografar numa visão contemporânea.

Irmão, imagina o que pensam os moçambicanos menos atentos e/ou sem capacidades para lerem nas entrelinhas, os discursos e “análises retrógradas” e embrulhadas em senso comum de alguns analistas/comentadores, só porque vão buscar os melhores (?) vocábulos de Camões e Pessoa para atingirem os fins sem olharem para os meios. Qual período da Segunda Guerra Mundial, onde os meios de comunicação tinham como preocupação dominante a determinação dos efeitos da propaganda centrando o tipo de efeito nas atitudes, nos valores e nos comportamentos dos destinatários.

Olhando em ultima instância, esta azáfama das eleições, campanhas versos promessas e desorganização na luta desenfreada da procura do pão de forma mais fácil, leva os politiqueiros a “escolherem o CC e a CNE como seus dois batuques para fazerem os seus ritmos de vitima” o que me faz me lembrar da estoria do macaco que acusa o “palco” de estar torto, mas na verdade ele é que é coxo, não sabe dançar.

Irmão, isto é bem diferente da coreografia da dança contemporânea. Na coreografia da dança contemporânea estão em jogo muitos factores, tais como, a ruptura com os padrões estéticos anteriores, onde o corpo e a mente experimentam novos condimentos técnicos e situacionais do espaço antes não vividas. Por outro lado, na coreografia contemporânea a criação e a tenacidade coreográfica não se centra num único elemento, o solista, mas sim em outros elementos com por exemplo, o movimento e a organização.

Aqui diferencia-se o movimento do gesto, apesar de aparentemente estarem juntos, têm proveniências diferentes. Como diz WOSIEN (2000)O movimento é o resultado do esforço mecânico do corpo para se deslocar no espaço, de forma organizada, enquanto o gesto traz a carga expressiva, a identidade sócio – psíquica de cada um: sua mitologia corporal”. O que se pode concluir “que não há um movimento expressivo idêntico ao outro”.

A organização que faltou e ainda falta a muitos politiqueiros, na dança contemporânea está lá bem patente. E isso pode confirmar meu caro irmão. Mentira!!!!!!?????

Caro irmão, a dança como arte, seja qual for seu estilo, traz ao público além de lazer, uma nova forma de ver a vida, o mundo real e o mundo irreal, traz ao espectador o que as palavras não são capazes de dizer e o que somos capazes de sentir. A dança em si tem o poder de criar um mundo diferente na mente de cada espectador, e este mundo é capaz de gerar novas informações e conhecimentos para uma vida.

E como diz Miriam Lamas Baiak (2007) “não importa qual o estilo, se ela está na escola, na rua ou no teatro, a DANÇA faz parte de nossas vidas, e se prestarmos um pouco mais de atenção nela e nos seus profissionais, veremos que sua contribuição saí de dentro das paredes de uma sala de aula – da mente - e ultrapassa as linhas de um palco, levando para a sociedade uma contribuição infinita e de grande valor”.

Mas desmistificando a sua carta vejo que da “moda antiga”, talvez se encontra lá o formato, mas tem tudo de actual. Estás de parabéns por seres inimigo das verdades simples e convidares a sociedade a olhar nas entrelinhas e a questionar tudo o que lhe é apresentado pelos nossos comentadores, e não só, nas espectaculosas e as nossas Tvs.

Para terminar, ainda bem que não tens a certezas do que se nos e dados pelos órgãos de comunicação social, como jornalista que és, como sempre defendeste, já partes na luta pela imparcialidade, e já agora, permita me que lhe diga que o grande problema deste mundo – quiçá da nossa Pátria Amada – são os ignorantes e fanáticos com as suas certezas (in: Combates pela mentalidade sociológica, Serra, C. 2003).

Há comentadores que já “cederam à temperatura e amoleceram”, como acontece com as bananas, e é altura de estarem no “caixote do lixo” ou na geladeira para refrescarem os miolos e voltarem no “próximo mandato” quando surgir a outra espectaculosa já que o império vai se impondo na nossa Pátria, espero que não se repita o caso Zimbabwe…em Moçambique!!!!!!!!!!!!!!!!!! ou o caso de Sílvio Berllusconi, na Itália….

Como diz Santo Agostinho: “...Ó homem aprende a dançar! Caso contrario, os anjos não saberão o que fazer contigo”.

PS: Irmão gostava ter comentado directamente do seu Blog, mas neste “Ninho do pássaro”, as regras são outras….não tenho permit (em off the record) para ver blog, facebook, etc…

Jiamusi, R. P. China

Aos 04 de Outubro de 2009

Virgílio Sitole

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Comentador Das Bananas

Comentador Das Bananas

“O conhecimento não se adquire

por numerosas narrativas,

mas seguindo o conhecimento

e usando-o.”

In As Noites das Mil e Uma Noites

do prémio Nobel de Literatura

Naguib Mahfuz

Desta minha Matola

Para Virgílio Sitole,

Esse filósofo da dança

que aprendeu a coreografar a vida


Meu companheiro, não fui ver teu bailado como havia prometido. Sabes qual é a minha opinião sobre a dança contemporânea. Acho que a minha sensibilidade não é civilizada para a dança contemporânea, ainda não me emancipei do xigubo já que me parece haver uma resistência dos nossos coreógrafos em contemporanizar as nossas danças tradicionais. Não é possível mano?

Mas um dia falamos disso.

Cá desta pátria do Índico, sabes companheiro, estamos a viver um forte momento eleitoral. Penso que dessa China onde te encontras escapas aos efeitos colaterais desta campanha desenfreada.

Mas não é a campanha meu companheiro que me deixa preocupado. Não são os discursos fervorosos dos políticos com as suas promessas utópicas que me desesperam. Não mano. As loucas promessas de bem-estar “se ganhar as eleições” é o papel dos políticos. Quando presto atenção a uma campanha eleitoral tenho de estar preparado para ouvir promessa de “escola a dois metros da minha casa” ou de “oferta de 10 hectares de terra a cada moçambicano”.

O maior barulho é sobre a exclusão de uma série de partidos que se candidatavam para cadeiras de poder. É compreensível a raiva de João Massango quando decreta “o luto nacional” depois de quebrar-se o último galho de esperança que era o Conselho Constitucional.

Mas o que não dá para perceber são as visões unilaterais dos nossos comentaristas e jornalistas que se despem da “imparcialidade” e escolhem alvos a abater. Sei que me vais questionar acerca da imparcialidade pois já falamos algumas vezes sobre isso. E nessas nossas conversas já o assumi que a partir do momento que vivemos num meio nos deixamos envolver em companhias, consumimos o que a sociedade nos oferece, a nossa capacidade de ser imparcial enfraquece.

Mesmo assim mano, temos a obrigação de nos esforçar em direcção a imparcialidade. É isso que se exige do jornalismo e dos comentadores como agentes facilitadores de compreensão de fenómenos e infelizmente não é isso que está acontecer.

A nossa imprensa é feita de induções. Os nossos jornalistas transformaram-se em futurologistas. Os nossos comentadores escolheram dois alvos a abater, CNE e Conselho Constitucional. Transformaram os partidos políticos em vítimas dessas duas instituições ilibando-os de quaisquer erros. Eles são mais limpos que a virgem Maria.

Ignoram o reconhecimento dois erros que esses partidos já vieram assumir porque já escolheram os seus tambores. Eles fazem os seus ritmos de vítima e convidam o eleitor a dançar numa coreografia pior que a da dança contemporânea do meu ângulo de visão é claro.

O engenheiro Venâncio Mondlane, o comentarista mais concorrido de momento, no seu esforço de neutralidade apareceu na STV a fazer um recorte daquilo que ele considera o mundo. Para ele em nenhum tribunal do mundo não se tomam decisões até altas horas, ou fora do horário normal do trabalho. É mano, deixava claro que o que ele nunca ouviu ou viu é porque não existe.

Como tantos outros comentadores de momento recorrem sempre a artigos para suportarem as suas opiniões. No entanto eles pegam os artigos como partes isoladas e não como partes integrantes de todo um pacote de lei.

Para mostrar o fracasso do CC, engenheiro Venâncio levou aos estúdios daquela estação emissora uma banana. Estava constantemente a apalpar o bolso como para certificar se ela não teria cedido a temperatura e amolecido. Depois a exibiu mostrando que estamos num país das bananas.

Claro que estamos num país das bananas. Quando temos comentadores e jornalistas que no lugar de ajudarem a compreender os fenómenos de uma forma global escolhem apenas partes para nos darem como verdades absolutas, não ajudamos a desenvolver esta pátria amada.

Eu acho Sitole, que este país está habituado a se fazer tudo sem se respeitar a lei. Estamos num país onde as pessoas estão preparadas a perdoarem a qualquer infracção em nome da estabilidade. Mas a nossa paz e liberdade não pode ser feita a custa da escravatura.

Alguns diplomatas vieram juntar suas vozes (largamente discutida aqui), a mais elevada e irritada delas foi do encarregado de negócios dos EUA, Todd Chapman que falava de uma democracia inclusiva. Hawena, é incluir só por incluir?

Penso que a democracia tem regras e todos as conhecem, assim como todos nós sabemos que as regras são para serem cumpridas.

Mas vamos vivendo esta saga eleitoral mano, com comentadores das bananas que se convencem que são— como diria personagem da telenovela Chocolate com Pimenta – donos e proprietários da verdade. Se esquecendo mano que a única vantagem que têm em relação aos outros é o acesso ao microfone e a páginas dos jornais.

Prometo mano ir ver a gala dos 30 anos da companhia. Mesmo que seja dança contemporânea, faço esse sacrifício para que me contes como são as chinesas.

Aquele abraço, desta pátria onde se o assunto for cuidar dela, me assumo parcial.

PC

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A Renúncia

Eu só peço a Deus

Um pouco de malandragem

Eu sou poeta

E não aprendi a amar

Cassia Eller em Malandragem

Se me amares…

Não sei quanto dura uma relação, mas sei quanto tempo terei de ganhar te fazendo carícias enquanto te falo das histórias que não foram contadas.

Ligo TV e me agride a repetida imagem de campanha eleitoral com destaque para a violência. Eles sabem meu amor que se agridem. Este é o momento para descerem a terra e se comportarem como simples mortais.

Este é o momento de abraçarem aquela velha senhora desdentada surpreendida por uma brigada porta-a-porta quando voltava da machamba e se atiraram para os seus abraços esquecendo-se do banho que ela não toma há anos.

Dizem que são do povo.

Mas nós sabemos que não são meu amor. Nós sabemos que são blindados pelo seu poder. Nós sabemos que depois se irão embora e a mais curta distância que haverá entre nós será pela TV.

Mas, sabes, é política isso meu amor.

Se me amares… renuncio a sexta-feira. Sei que vou perder as belas companhias no bar da Celeste onde as horas nos traem correndo para amanhecer. É lá onde exibimos a nossa masculinidade e chamamos ladrão a qualquer um sem termos de provar.

É bom estar lá.

Mas se me amares não te deixarei sozinha em casa. Te farei companhia a cada instante arriscando a minha reputação na acusação de me teres engarrafado.

Enquanto não me dizes sim…

Vou me perdendo nesta TV, vendo todos os telejornais formados de campanha eleitoral. Violento o remoto como se fosse culpado pela programação “vocês não estão cansados de serem ex…” clic “eles é que des…”clic. “Fomos ro…” clic.

Já sei o que vão dizer.

Pode se ouvir da minha janela os gritos e buzinas de uma falsa satisfação. Vota… Vota… “a tua vida vai mudar”… “somos alternativa inclusiva”.

Fico neste meu canto a espera de um sinal teu.

PC Mapengo

Acompanhe o debate que corre aqui

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Carta de Índico

O simples facto de se dizer

que todos são iguais perante a lei,

já é uma injustiça

Não me lembro onde li isto



Matola, 2 de Setembro de 2009

A Ouri Pota

Te recordas das noites quentes de Maputo, mano?

Te escrevo cá do Indico meu irmão, onde ainda saboreamos timidamente, pelas rádios nacionais, as gostosas músicas dos Gorwane e Celso Ricardo anuncia, pelo menos uma noite do Alambique com o bom do Hortêncio Langa e Arão Litsuri.

Quando assunto é arte me assumo saudosista. Isto vem dos tempos que percorríamos as noites de Maputo nos intermináveis “concertos Verão” de Alex Barbosa em que a capital se transformara no poço dourado dos músicos angolanos primeiro e cabo-verdianos mais tarde.

Te recordas mano? Éramos jornalistas culturais.

Nessa altura os debates televisivos e radiofónicos preenchiam duas horas a discutirem se era música moçambicana ou música feita por moçambicanos. Até hoje não sei o que se pretendia porque os meus manos dos MOZPIPA não pararam de cantar morena de Moçambique e as mulheres se deliciavam com a sua forma elegante de vestir.

Nessa altura, mais do que discutir, mano, o país que saía de uma longa guerra civil – é esta a denominação não? Guerra civil? – dizia que mais do que discutir terminologia, o queríamos era saborear a paz. Era não perdermos tempo com a paternidade da democracia, já nos bastava sairmos a noite para vermos jazz e aplaudirmos a explosão teatral que se fazia sentir pelas ruas da capital.

Nessa altura o teatro era muito mais que uma simples arte de contar história. Era um micro espaço onde os actores se revestiam de alma de todos nós e reinventavam os seus sofrimentos. Gilberto Mendes, tal como na brincadeira das escondidas de mutumbela iria gungular que é preciso rir das próprias desgraças. É nisso que se transformou ou se fez o teatro de Gungu: um espelho de nós mesmos em todas as nossas vergonhas.

Mas não tínhamos nada que discutir política como diz a música angolana que Valdemar Bastos não se cansa de recriar e o fez muito bem com Dulce Pontes – você menino não fala política.

Sim mano, já nos bastava sermos cidadãos desta princesa de Índico. Olha que ser cidadão nesta nossa terra não é coisa fácil. Não falo de renuncia que cada um de nós se sujeita na altura de votação, onde nos dizem que é a melhor altura para exercer a cidadania. Falo concretamente de falta de opções para o tipo de cidadão que desejamos ser.

Sim mano Pota. Nos dão várias opções mas todas elas com um único modelo como se fosse uniforme prisional.

Percebes?

O que quero dizer é que este nosso país vai as eleições no próximo mês e ainda não me ofereceram alternativas para a escolha. Me dizem simplesmente que o partido no poder está errado e que precisamos de o afastar.

Mesmo que isso fosse verdade, preocupa me a inexistência de alternativa; preocupa-me que ainda não tenha aparecido ninguém a apresentar-me uma forma alternativa de fazer as coisas que diz estarem erradas do partido no poder, a dizer me: o meu plano é este.

Naquela altura não podíamos discutir porque precisamos dançar pela paz e saborear a liberdade de percorrer as distâncias desta pátria amada. O espectro da guerra pairava no ar.

Passados tantos anos, há gente que ainda não se apercebeu que o país avançou e ainda repetem o mesmo discurso como arma eleitoral. Perdem-se em insultos e promessas de perseguição e o tempo de apresentarem as suas ideias escasseia, voa.

Num debate televisivo sobre a democracia interna que vi em repetição hoje na STV, o maior tempo foi para os membros da Renamo presentes dizerem que não havia democracia na Frelimo e os da Frelimo dizerem que a Renamo, em face do que nos dá a conhecer, era o mais claro exemplo da ditadura. E daí?

E olha que os nossos partidos são especialistas em desculpas. A velha cantiga de falta de fundos para trabalharem não falta, como também não falta a já velha e gasta ideia de favoritismo de Estado por parte da Frelimo.

Estou a dizer mano Pota que não há exposição de ideias.

Ontem estava a ver na RTP a Grande Entrevista de Judite de Sousa e José Sócrates, onde o Primeiro-ministro de Portugal dizia claramente que a escolha seria, para além de propostas que ele e Ferreira Leite apresentam, as suas personalidades.

Está claro que Portugal vai escolher a personalidade do indivíduo. Um grupo de especialistas de moda já veio dizer que para impressionar, Ferreira Leite deve mudar tudo enquanto Sócrates deve mudar personalidade.

Que personalidade apresentam os nossos políticos. Que discursos trazem para nos impressionarem, o que podemos esperar do nosso próximo líder? O que estou a perguntar é o que vamos escolher? É isso que espero que a campanha eleitoral prestes a começar nos apresente.

Mas, meu companheiro, não preciso ser advinho para saber que a campanha será feita de insultos pessoais, provocações entre os apoiantes e os porta-vozes a esforçarem se para (como crianças) dizerem foram eles que começaram.

Depois dos últimos acontecimentos de vandalismo entre os simpatizantes da Frelimo e Renamo onde se diz que o líder da perdiz andou aos tiros, onde se diz que os membros dos camaradas saíram armados; com um país onde membros da perdiz arrancam armas a polícia por aquilo que chamam de “abuso” não posso esperar muito, nem mesmo me que me digam que somos todos iguais perante a lei.

O que espero, mano Pota, é te escrever sobre os livros que estão a ser lançados, continuar a discutir com os meus amigos da CNCD por causa da minha aversão a dança contemporânea.

Hoje vou ver um bailado de Casimiro Nhussi sobre ritual de iniciação, depois me perderei no Franco para o lançamento de disco de João Cabral e, procurarei ver a Rebelião dos Sinais, a peça de Rogério Manjate.

Mano, quando voltares espero que te sobre tempo para veres a minha peça de teatro com Xilofone.

Um abraço

PC

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Os 2 Minutos Fatais

Pedi você para me esperar cinco minutos

Cinco minutos apenas

Você foi embora…

Você não sabe quanto valem cinco minutos na vida

Marisa Monte in Memórias, Crónicas e Declarações de Amor


Matola, 25 de Agosto de 2009

Para meus amigos que valorizam o tempo

Quanto valem dois minutos?

Não sou um escravo de relógio suíço, logo tenho dificuldade em ser pontual embora me esforce para isso. Mas, meus companheiros, isso não faz com que eu não tenha noção que o tempo é, realmente, dinheiro. Neste caso, o tempo vale uma candidatura.

Não sou um apaixonado político como o meu amigo Egídio Vaz e meu irmão Mutisse, mas isso não quer dizer que seja distraído quanto os nossos políticos. A sede de poder que se verifica, pelo menos nos discursos dos nossos políticos não corresponde aos esforços que eles fazem para chegar lá.

Temos políticos?

Me diverte essa distância entre os actos e palavras.

O líder da União Africana para a Salvação do Povo Africano, UASP, está a fazer uma corrida para recuperar o tempo perdido, neste caso os dois minutos que diz ter se atrasado, para inscrever o seu partido. Para ele “dois minutos não é nada”. Até pode “não ser nada”. Mas se estamos a falar de um país que já atrasou 500 anos – este é um outro debate já que António Muchanga da Renamo diz que a história mente quando fala de 500 anos de ocupação europeia –, escrevia que estamos a falar de um país que não pode mais se dar ao luxo de perder dois minutos.

Infelizmente, a mim não surpreendem as declarações do líder de UASP porque tenho prestado atenção as declarações políticas dos partidos na oposição – é assim, não é mano Vaz – e todos eles, digo TODOS ELES, só têm um único ponto nas suas agendas: tirar a Frelimo do poder.

Nenhum desses partidos apresenta um plano daquilo que fará quando chegar ao poder. Yáqub Sibindy do PIMO já veio dizer que não tem ideologia. O mais engraçado é que não é sem ideologia, sem orientação e sem ideias claras. Ele teve a coragem, que falta a todos os outros, de o assumir publicamente.

Quando as eleições se aproximam, todos estão ainda preocupados em reclamar as suas inscrições.

Estamos perante grupos desorganizados que esperam de atirar as culpas para os outros. Todos esses partidos e candidatos sabiam quando é que as inscrições iriam terminar. Conheciam as regras de jogo para participarem nas eleições e esperaram para o fim.

Meus companheiros, para qualquer vitória precisamos nos organizar e tempo é o elemento principal nessa corrida. É preciso saber fazer do tempo o seu aliado principal. Essa aliança não pode ser com perda de segundos mas sim fazer com que eles sejam excessivos.

Deixar as coisas para o fim, mas para um leigo político como eu, não é, de certeza uma boa estratégia.

Aquele abraço

PC