quarta-feira, 4 de novembro de 2009

História da Vida Privada

As vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas... O tempo

passa... e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas

pequenas demais para torná-los reais!

Bob Marley

Ao velho General

Matola, 4 de Novembro de 2009

Meu velho general,

Desta minha Matola onde Basílio Muhate e Milton Machel, sem compreenderem como nós os dois que é bom criar trincheiras, dizem que fico a me fantasmagorizar, te escrevo esta carta de quem nunca percebeu para quê servem as armas, muito menos as guerras.

Mas há tanta coisa que eu não percebo meu general. Por exemplo como é que não consegues compreender que o jogo acabou mesmo depois do apito final.

Quando falo do jogo me recordo de uma entrevista que deste na TVM, há anos para o programa “Estamos Juntos”, penso que era esse, de Emílio Manhique onde falavas do teu amor pelo futebol e que não gostavas por nada de perder.

Me disseram que também és do Ferroviário, General. Penso que agora que mudaste a capital para Nampula dificilmente irás ao Estádio da Machava. Eu também não iria General, aliás, também não vou apesar do Estádio estar no quintal da minha casa.

Mas o senhor tem outras razões para não se dirigir a Machava. Não se pode trocar Nampula pela Machava.

Olha General, eu percebo a tua vontade de mudar a capital para Nampula. Eu também se tivesse o mesmo poder que o senhor o faria. Não quero acreditar que seja por razões políticas. Há coisas mais importante que política. A minha amiga Ani, romântica como ela sempre foi diria mesmo que há coisas mais importantes que política e dinheiro e nós os dois sabemos o que é.

Se meu amigo Egídio Vaz, um ilustre bicho político, viesse me dizer que a política está em tudo, ficaríamos logo com a certeza que ele nunca foi a Nampula com espírito de um verdadeiro cavalheiro.

Em Nampula aprende-se a saborear com os olhos o mais puro da beleza sensual. É só te pendurares num dos postes das velhas ruínas da Ilha de Moçambique para te deliciares com a sensualidade da dança de um feminino corpo macua, como as senhoras do grupo Estrela Vermelha. Sabe general que sempre que olho para aquelas mulheres dançar com toda aquela levaza chego a pensar que elas controlam o tempo?

Sim, lá se controla o tempo. Pelo menos elas controlam o tempo, elas ditam as regras e tu te apaixonas, soltas o verbo e pensas que caçaste quando não passas de uma presa.

Penso que um homem honesto e de uma boa família, isto só para não dizer bem-educado, não pode ir a Nampula casado. Em Nampula não se vai casado casa-se lá.

Voltando aquela entrevista, General, eu percebo hoje o porquê da promessa de pôr o país a “arder chama”.

Mas no lugar de olhar para o que os outros fizeram para que o senhor não ganhasse estas eleições, porquê não prestar atenção àquilo que o General fez para perder.

Penso General que o senhor não se apercebeu que uma luta política não se ganha com as mesmas estratégias de guerrilha. Penso que se esqueceu de se desmobilizar. Se esqueceu da famosa frase de “um homem válido na guerra é inválido na paz.”

O senhor conseguiu manter-se líder. Mas faltou dar sustento a essa figura de “líder” que sempre ostentou.

Repetiu a ideia de ser mais jovem e mais bonito como se eleições fossem concursos de beleza e porte físico.

Nos 45 dias de campanha eleitoral, meu General, o senhor fez um clássico passeio pela zona norte, só para não dizer Nampula, deixando poucas horas para sul. A sua explicação na entrevista da RDP – África foi de que sul representa 22% da capacidade eleitoral.

General, nunca ouviu os economistas dizerem “cuidado com os pequenos furos porque fazem grandes rombos”?

Não General, acho que a sua estratégia, pode até ter sido boa em termos militares mas politicamente não funciona. Não funcionou General!

A prova disso são os discursos agressivos que o senhor faz e os seus acólitos, Banrarano e Ivone Soares fazem eco.

Mas como o senhor mesmo diz, esses são miúdos. Me preocupa mais o que o senhor como líder diz.

Repetiu várias vezes que era pai da Democracia. Não se preocupou por essa menina “Democracia” nascesse de uma mãe incógnita. Teve todas as oportunidades para a abortar mas preferiu deixa-la crescer para a assassinar agora.

É general, vê que isso não faz sentido?

O senhor diz que ainda tem idade para se candidatar. Acredita que um dia será Presidente desta República como o foi Lula da Silva. Para mim o General está mais próximo Jean-Marie Le Pen.

Sei que não tenho direito de me meter na vida do seu partido, mas acho que é hora exacta para sair de mansinho e irmos sentar na nossa nova capital apreciar o que de mais belo há lá.

Aquele abraço

PC Mapengo

3 comentários:

Basilio Muhate disse...

Mapengo
Estou triste e feliz por escreveres ao General. Triste porque alias-me, involuntariamente, a um movimento incendiário, justamente numa altura em que ando a fazer estudos para apurar a possibilidade de instalação de uma fábrica de fósforos no País (tristes coincidencias). Feliz porque estou a celebrar Moçambique, e o teu texto traz uma abordagem didáctica sobre diferenciar a maneira de se fazer política em tempos de guerra relativamente aos períodos de paz.
Eu nunca disse que ficavas a te fantasmagorizar, apenas fantagosmizei-te em função da fervura eleitoralista dos 45 dias de campanha, em que o anonimato era assunto de destaque e que alguns "virtuais" pediam aos curandeiros que detectassem o provavel fantasma do PC Mapengo ! Eu sempre soube e sei que PC Mapengo é um criador de trincheiras.

amosse macamo disse...

“Sei que não tenho direito de me meter na vida do seu partido, mas acho que é hora exacta para sair de mansinho e irmos sentar na nossa nova capital apreciar o que de mais belo há lá.- a ideia de sair de mansinho é mesmo contra o ideal do General”. Vá lá um General sair sem produzir estrondos, então não seria General.

Mas talvez o General precise de assessoria que aguente o seu ego, que o lembre que ele é sim “todo General”, mas que o povo, não é soldado, mas povo. Que ele tem poderes e o povo sabe que os tem, mas que não ameaçe de usá-los a todo tempo e momento, porque, a uma dada altura, os poderes,mesmo que mágicos, viram anedotas em celulares, viram piada até de mau gosto e quem os diz: um palhaço.

Mas o General não é palhaço, pois, enquanto a mim e a si amigo Mapengo, ele não mais assusta porque sabemos que desprovido de fósforo (e se o tem os palitos estão molhados), a maioria esmagadora de moçambicanos que não podem fazer a leitura que nós fazemos, se assusta e lembra o passado, mesmo quando pensam que já o enterraram.
Mas mesmo este povo, penso, já começou a olhar para o General, de como deve ser olhado: alguém, a quem não se deve olhar nem ouvir.

Sobre a mudança de capital para Nampula? Eu conheço aquela terra Mapengo, na verdade vivi lá longos seis anos, e uma coisa lhe garanto, o General não é o primeiro a entregar as patências, e atenção, não ouse olhar para a mudança de capital como sinal de fraqueza, pois, enquanto lá não fores, eu e o General, te impedimos de dizer seja o que for, mesmo porque não saberás o que estarás a dizer.

E mesmo para terminar, eu, nunca procuro no escuro, o que não posso achar na claridade. (e será pedir muito que também o faças?)
Capiche Mano Mapengo?
Longa vida ao General.

PC Mapengo disse...

Bela lição mano Amosse
É complicado procurar no escuro o que não se pode achar na claridade.
Não compreendo a mudança de capital como uma fraqueza, pelo contrário companheiro. O general, do jeito que é, não se daria ao luxo de mudar a capital para Nampula num acto de desespero, penso que é por motivos muito mais fortes que os políticos.
Quanto aos pronunciamentos penso que muitos já compreenderam que não passa de último esforço de tigre sem garras. Ele também se apercebeu que não foi feliz por isso que apareceu a dizer que não disse o que se diz que disse.

Basílio

Longe de mim estragar o teu negócio de fósforos, me ofereço até para te ajudar a fazer esse estudo.