quarta-feira, 21 de abril de 2010

Última Entrevista: Respostas Imaginárias

Uma coisa boa sobre a música

é que quando ela bate

você não sente dor.

Bob Marley

Para Tony Django

Eu sei que nunca se vai parar a música,

mas acredite que ela não será mais a mesma.


Mano, esta é uma carta de memórias. Também é o que se pode fazer quando se dedica a uma estrela que temos de aprender a ver o seu brilho através do coração porque sabemos que ela “não brilhará mais aqui.”

Acho que nunca te disse, mas sempre me recordaste Peter Pan. Me prendia sempre a assistir esse personagem que o seu maior, senão único, medo era ser adulto. Queria prender se na eterna infantilidade e se deliciar com as histórias da Wendy porque “acreditava em fadas”.

Será que acreditavas em fadas Tony? Me esqueci de te perguntar isso na única entrevista que me concedeste. Foi só uma entrevista não por tua culpa, mas porque sempre tenho dificuldades de entrevistar os meus amigos. Fica-me sempre aquela sensação de que de todas as perguntas que vou fazer, tenho as respostas.

Agora sei que é presunção. Sei que muitas perguntas ficaram por te fazer. “Acreditavas em fadas?”

Nunca te perguntei isso, como também não te perguntei se serias capaz de fazer outra coisa senão cantar? Se podias ser uma outra pessoa que não Tony Django? Agora sei que não te conhecia.

Olhava para ti e me recordavas Peter Pan.

Sempre me fascinei com a sua fragilidade infantil de um personagem que amava como adulto e estava preparado para lutar e demonstrar seu poder perante capitão Gancho.

Tinhas esses traços frágeis de adolescentes e te soltavas em sonhos na poderosa música de adultos. “Uta Bala ka Mani” é onde aparece a tua potência como se o seu corpo franzino ganhasse massa e exigisse que olhassem para ti como adulto.

Katchume era o exemplo de música que se podia fazer nessa altura. Rompiam com os estrangeirismos que dominavam a juventude e corriam para as raízes sem deixarem de introduzir conceito world típico das grandes bandas africanas.

Depois do sucesso do Ghorwane, precisavamos de uma renovassão que nos ajudasse a compreender o verdadeiro valor dos bons rapazes. E Kapa Dêch deu uma resposta a altura e nós percebemos o quanto este país estava a precisar de equilíbrio em termos de música.

Se lesses esta carta mano, sei que saberias que não estou a fazer nenhuma comparação pois são dois grupos completamente diferentes. Não falo apenas nas suas estruturas como também em estilo de música. Estou simplesmente a dizer que vieram mostrar que há muitos caminhos pelos quais se seguir.

Penso que isso é o que falta nestes dias.

Me esforço agora que te escrevo, a ouvir Dorropa. Me esforço porque é arrepiante lembrar que cada música em que aparece a tua voz é exactamente a última música em que emprestas o teu encanto de “fadas”.

Dorropa me fascina. É como se, pela tua voz me oferecesse a imagem de uma cidade que está a ser vendida aos bocados e se enche de sugidade. É retrato de um país degradado.

Olha mano, também não te perguntei sobre este país. O que achavas deste país? Acho que – estou a ser novamente presunçoso – dirias “haaa deixa lá disso vamos lá ali....”

Então nos meteriamos pela rua da Resistência irias querer falar da música que era o que corria em ti. Insistirias em me contar, acho que pela oitava vez, o sonho de construireres uma casa primeiro andar onde embaixo funcionaria um estúdio ou um centro cultural.

“Querias viver com música em casa?”

Acho que diria – “obviamente, eu sou a música”.

Eu sei mano que a música não vai deixar de existir. Iremos a Malhangalene beber um copo. Vamos cantar no Gil Vicente e dançar no África.. A música vai continuar, mas não será a mesma coisa.

Não haverá Dorropa com tua voz, não vamos ouvir “Mamane” e o seu apelo a iguladade “hi tlanlane magoda hita ringanana – penso que é assim que se escreve – tirem-nos as amarras para estarmos ao mesmo nível - não se fará mais tributo sem teu nome, não haverá mais Tony Django na última correografia do espectáculo do K-10!

NI TA BALA KA MANI!Mano, esta é uma carta de memórias. Também é o que se pode fazer quando se dedica a uma estrela que temos de aprender a ver o seu brilho através do coração porque sabemos que ela “não brilhará mais aqui.”

Acho que nunca te disse, mas sempre me recordaste Peter Pan. Me prendia sempre a assistir esse personagem que o seu maior, senão único, medo era ser adulto. Queria prender se na eterna infantilidade e se deliciar com as histórias da Wendy porque “acreditava em fadas”.

Será que acreditavas em fadas Tony? Me esqueci de te perguntar isso na única entrevista que me concedeste. Foi só uma entrevista não por tua culpa, mas porque sempre tenho dificuldades de entrevistar os meus amigos. Fica-me sempre aquela sensação de que de todas as perguntas que vou fazer, tenho as respostas.

Agora sei que é presunção. Sei que muitas perguntas ficaram por te fazer. “Acreditavas em fadas?”

Nunca te perguntei isso, como também não te perguntei se serias capaz de fazer outra coisa senão cantar? Se podias ser uma outra pessoa que não Tony Django? Agora sei que não te conhecia.

Olhava para ti e me recordavas Peter Pan.

Sempre me fascinei com a sua fragilidade infantil de um personagem que amava como adulto e estava preparado para lutar e demonstrar seu poder perante capitão Gancho.

Tinhas esses traços frágeis de adolescentes e te soltavas em sonhos na poderosa música de adultos. “Uta Bala ka Mani” é onde aparece a tua potência como se o seu corpo franzino ganhasse massa e exigisse que olhassem para ti como adulto.

Katchume era o exemplo de música que se podia fazer nessa altura. Rompiam com os estrangeirismos que dominavam a juventude e corriam para as raízes sem deixarem de introduzir conceito world típico das grandes bandas africanas.

Depois do sucesso do Ghorwane, precisavamos de uma renovassão que nos ajudasse a compreender o verdadeiro valor dos bons rapazes. E Kapa Dêch deu uma resposta a altura e nós percebemos o quanto este país estava a precisar de equilíbrio em termos de música.

Se lesses esta carta mano, sei que saberias que não estou a fazer nenhuma comparação pois são dois grupos completamente diferentes. Não falo apenas nas suas estruturas como também em estilo de música. Estou simplesmente a dizer que vieram mostrar que há muitos caminhos pelos quais se seguir.

Penso que isso é o que falta nestes dias.

Me esforço agora que te escrevo, a ouvir Dorropa. Me esforço porque é arrepiante lembrar que cada música em que aparece a tua voz é exactamente a última música em que emprestas o teu encanto de “fadas”.

Dorropa me fascina. É como se, pela tua voz me oferecesse a imagem de uma cidade que está a ser vendida aos bocados e se enche de sugidade. É retrato de um país degradado.

Olha mano, também não te perguntei sobre este país. O que achavas deste país? Acho que – estou a ser novamente presunçoso – dirias “haaa deixa lá disso vamos lá ali....”

Então nos meteriamos pela rua da Resistência irias querer falar da música que era o que corria em ti. Insistirias em me contar, acho que pela oitava vez, o sonho de construireres uma casa primeiro andar onde embaixo funcionaria um estúdio ou um centro cultural.

“Querias viver com música em casa?”

Acho que diria – “obviamente, eu sou a música”.

Eu sei mano que a música não vai deixar de existir. Iremos a Malhangalene beber um copo. Vamos cantar no Gil Vicente e dançar no África.. A música vai continuar, mas não será a mesma coisa.

Não haverá Dorropa com tua voz, não vamos ouvir “Mamane” e o seu apelo a iguladade “hi tlanlane magoda hita ringanana – penso que é assim que se escreve – tirem-nos as amarras para estarmos ao mesmo nível - não se fará mais tributo sem teu nome, não haverá mais Tony Django na última correografia do espectáculo do K-10!

NI TA BALA KA MANI!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Dos Bifes A Ditadura Da Media

"Se você não tem motivos para sorrir,

pelo menos não dê motivos

para os outros chorarem."

Anónimo


Matola, 14 de Abril

Uma canção para Seth Swaze

Pelo seu aniversário e

pelas músicas que nunca gravou

Mano, uma vez descansava o triste peso de um dia em que corremos atras do que não sabemos só para nos iludirmos que fazemos alguma coisa. De remoto na mão fui repetindo essa inaptidão a procura, nas nossas TV’s, de qualquer coisa que pudesse assistir. Sabes Seth, há horas que nos apetece partir o televisor por não nos estar a servir para nada. Mas esse dia fui me prender na 21ª hora, e Fernando Lima sugeria para ler “A Ditadura da Media”.

Me admira o poder disciplinador da media do mesmo jeito que me assusta a forma de interferir nas nossas vidas. Uma espécie de invasores impiedosos que se dão ao luxo de determinarem o que temos de fazer, onde devemos comprar e o quê comprar. Pior, a quem amar!

A media venceu. A Televisão tomou de assalto o papel previligiado dos pais e passou a ser o educador destes e dos seus filhos. Já te apercebeste do silencio que os pai impõe ao filho na hora do telejornal e aquele que a mãe sujeita quando passa uma telenovela?

Te dizia mano que a media venceu e determina onde comprar as coisas. Rui Michel foi a última vítima dos bifes por ter feito compras no Xipamanine. Va ka hina, por se ser músico não se pode fazer compras no Xipamanine?

O que mais intriga é concentração das pessoas para ver “daqui a pouco”essa grande matéria. E ainda me vem dizer que o tempo de antena na TV é caro. Façam-me rir.

Mas te queria falar de música mano.

Parti dos breves minutos da tua música ontem para recuar no tempo em que com Zé Manuel – onde anda esse companheiro? – fizeram uma parelha e percorreram um jazz todo gospelizado cheio de marrabenta que alertava “deixem os pintos crescerem”. Queria voltar para o poder da música que a media não encontra motivos para a expor nos seus canais (falo das TVs) porque o tempo da antena é caro.

Voltei aos spirituals que não eram exactamente das noites revolucionárias da capoeira ou do hip-hop das ruas novaiorquinas importados dos ritmos da jamaica.

Eram música de lamento e crença no poder divino para o descanso espiritual, pelo peso de tanto trabalho nas plantações de canas-de açucar. Será daí que evoluiu a tua música Seth?

Essa minha leitura pode ser influenciada pela tua ligação com a religião onde parece ser a base para a grande música. Podia correr para os coros que inspiraram os Boyz II Man, mas posso me prender – gosto desta – na Irinah ou mesmo na Lizha James dos tempos iniciais da sua carreira em que a voz era o seu principal instrumento de sedução. Lembras?

Alguns dos teus ídulos também não se escapam dessa influência religiosa, falo por exemplo de Arão Litsuri. A tua música me levou de volta a esse passado para compreender a evolução de algumas das nossas histórias.

Na sexta-feira fazes 34 anos e vais cantar para os teus amigos no Mbuva. Espero esse regresso, e acredito que na tua marrabenta, afrojazz e gospel teremos uma forma de fazer uma viagem pela world music, do nosso jeito.

E espero que depois trabalhes para produzires um disco e que ganhes mais indo ao palco que indo ao tribunal como advogado.

Hã... cuidado, se fores as compras ou se fores dar umas voltas pelas avenidas onde as mulheres estão dispostas a te amarem por uns minutos a troco de alguns valores podes ser o proximo bife.

Aquele abraço

PC