quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Auxilio Incompreendido

Socorro, alguma alma, mesmo que penada

Me empreste suas penas.

Já não sinto amor nem dor

Já não sinto nada.

Socorro, alguém me dê um coração.

Que esse já não bate nem apanha.

Por favor, uma emoção pequena,

Qualquer coisa que se sinta,

Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva.

In CD “UM SOM” de Arnaldo Antunes

Ao marido da minha amante

Querido sócio, desta Matola onde construo meus sonhos, te escrevo para mostrar a minha indignação. O meu país está a atravessar um ímpar momento de campanha eleitoral. Falo de escolhas, sócio.

Eu não queria voltar ao assunto político neste meu canto a moda antiga. Sabes sócio que há uma onda de alianças dos excluídos com os candidatos não desqualificados e, logo, sérios (alguns hão de ser, de certeza)? É engraçado olhar para este cenário. E eu já me questionei sobre posições políticas dos nossos partidos.

Diga meu companheiro, podemos falar de esquerda direita ou partidos de centro no nosso cenário político? O que é que o PIMO ou os Ecologistas têm a ver com a FRELIMO? O que é que os que declararam apoio ao MDM têm a ver com este movimento? Fiz me, também, esta pergunta numa outra vertente como “o quê é que a União Democrática acrescentou a Renamo?”

Pelo menos sei que a Renamo deu a muitos dos líderes desses partidos oportunidade de se sentarem nos bancos do parlamento.

Mas não é contigo que me interessa discutir política.

Te escrevo para expressar a minha indignação pela forma como olhaste para o meu esforço cristão de ajudar o próximo, neste caso a tua linda mulher.

Chegaste companheiro, faiscando de ódio pelos versos mentirosos e maliciosos que ouviste pelos becos da tua vizinhança, e te atiraste sobre a minha fragilidade com a raiva de fera.

Não me deste oportunidade de me explicar. Era para ti o rosto hitleriano de uma guerra que ainda estava para começar. Estendi-me sobre o asfalto perante olhares sorridentes desses vizinhos que nunca compreenderam a minha relação altruísta para com a tua linda mulher.

Juro-te que só queria ajudar.

Sacrifiquei o tempo que devia, apaixonadamente, dedicar a minha mulher e as duas esbeltas namoradas, para poder tratar da tua mulher solitária e abandonada nas noites de Inverno que, durante dois anos a deixaste nos lençóis do teu quarto vazio.

Compreendes agora companheiro?

A minha missão foi cuidar do teu património enquanto te distanciavas por essas belas terras de rand onde se diz que a riqueza se tira debaixo do solo. É verdade? Nós cá corremos contra a pobreza e desejamos que o nosso solo deixe de servir simplesmente para enterrarmos os nossos mortos.

Bom, mas isso é uma outra história.

Olhe sócio. Mesmo depois de ter jurado nunca mais te voltar a dirigir a palavra, cedi a coação jeitosa da tua bela esposa para te pedir desculpa. Por mim, ficava neste silêncio sarcófago e, já que estás de volta a terra do rand, também abandonaria a tua mulher na solidão a que vivia antes, a ver se aprendias a agradecer os gestos generosos dos outros homens.

Mas como te disse antes, pela minha educação cristã, não gosto ver uma mulher a sofrer sem poder a ajudar. E isso companheiro, a tua paixão cega não permitiu observar.

Dizia meu sábio avô que uma casa tem que ter um homem por perto. Penso que tu nunca tiveste essa lição senão não abandonarias a tua bela dama em busca de uma fortuna nas terras dos outros.

Eu percebo essa necessidade de riqueza e queria que continuasses nessa busca com a certeza de que a tua casa está em boas mãos. Sempre esteve e tu não percebeste durante a semana que estiveste cá.

A tua fúria que se traduziu em socos violentos e repetidos insultos não te permitiram que te apercebesses do meu trabalho ao longo da tua ausência.

Soltaste verbos insultuosos e mesquinhos só para não agradeceres por ter ficado a matar cobra na tua casa. E nem te apercebeste que te ajudei a fazer um filho que não conseguias havia 6 anos depois do teu casamento.

Eu percebo a ingratidão.

Por tudo que partilhamos, aquele abraço.

PC Mapengo

14 comentários:

Nkutumula disse...

Eheheheh, mano Mapengo,

Esse mafunda djôni da próxima vai te bukutar e te tsemar, já sabes oquê.

Gostei da carta,

Um abraço

PC Mapengo disse...

Nero
Meu irmão já ouviste algo como "ni dlawela ku lunga" hehehehe. espero que não se corte nada.

Basilio Muhate disse...

Essa carta é mesmo terra a terra Mapengo !

Será que realmente podemos falar de esquerda ou direita ou partidos de centro no nosso cenário político?Não vejo ligação ideológica entre aqueles que decidiram apoiar e aqueles que foram apoiados.

Qual é a mais valia de ter 30 partidos que são na verdade 30 pessoas, a apoiarem um partido político ?

Um abraço

Julio Mutisse disse...

Este mundo está cheio de ingratos. Há quem, incondicionalmente, oferece a sua ajuda para "gerir negócios" alheios no interesse e por conta do rspectivo dono, sem para tal estar autorizado nos termos do art. 464 do C. Civil ou dentro do tal "esforço cristão de ajudar o próximo," e o reconhecimento é no soco... epa é a vida.

Há é que fazer de tudo para não ser apanhado se não, como diz o Nero, vais ser CAPADO.

Política meu amigo, pelo menos na nossa realidade, é um jogo de interesses que ultrapassa as questões ideológicas se é que estas existem para a maioria dos partidos.

Se perguntares a RENAMO porque se considera da direita falar-te-á do disco riscado do anti comunismo como se, isso só, o outorgasse o direito de se afirmar da direita.

A minha FRELIMO já se deslocou da esquerda pura que, na definição de Norberto Bobbio, é lutar pela igualdade opondo-se, neste ponto, à "direita", comumente defensora da ideia de que, em qualquer sociedade, há a tendência natural a surgirem elites políticas, econômicas e sociais.

Por esta definição logo se vê a contradição da RENAMO que combate as elites que vão surgindo em Moçambique. A RENAMO deveria ser sua defensora.

Se nos apegarmos a esta definição podemos até concluir que a FRELIMO se "deslocou" mais para a "direita" e que a RENAMO e o MDM são "esquerdistas" extremistas que combatem as elites que vão surgindo (pelo seu esforço). Mas, e os outros? Onde os colocamos? Que ideais juntam mesmo Sibindy a Guebuza? Ou os líderes dos outros (que não conheço) a Simango?

Ximbitane disse...

Hehehehehe, alguns rasgos desta carta, PC, fazem lembrar a saga Amélia Mudungazi e Tomas M'pfumo no meu No da capulana.

PC, com este post, espero poder entender, de uma vez por todas o que é e quem é da esquerda, centro ou direita. Sim, esta é uma grande lição!

Obrigada

Unknown disse...

A classificação mais comum e universalmente aceite é entre direita, centro e esquerda.
No geral, os partidos de direita são mais favoráveis a um maior destaque do indivíduo sobre o colectivo; dão grande relevância aos direitos individuais bem como aos ideiais do livre mercado. O PSD na tuga...
Pelo contrário, os partidos de esquerda valorizam o colectivo sobre o individual, valoram direitos colectivos e uma economia centralmente planificada. Exemplo Moçambique dos primeiros anos de independência, China & Cuba actualmente e a ex URSS.
Entendo que um partido do "centro" combine as duas características com maior ou pendor para um dos lados daí as designações centro direita e ou centro esquerda.
Em Moçambique o que temos?
A FRELIMO como diz o Mutisse, abandonou a esquerda movendo-se mais para a direita e tenta um equilíbrio difícil entre políticas sociais colectivistas e ideiais de mercado que valorizam a competição e o surgimento de elites.
A RENAMO não tem ideologia aliás, a sua ideologia é combater, dizendo mal, da FRELIMO sem que as suas acções demonstrem para que lado pode ser inclinada.
O MDM, pelo discurso, é difícil de caracterizar. Juro que não sei.
Os outros não existem.
Mapengo, há coisas nas quais não se deve ajudar. Ainda não sabes disso. Dê graças a Deus se nessas suas peripécias fores apenas capado; ao menos manterás a vida (?????????) pode ser que te matem

PC Mapengo disse...

Maguezi Maguezi Maguezi, como é que um tipo CAPADO pode falar de VIDA?
Mutisse
É complicado aliar o C.Civil com o C. religioso… hehehehe… o meu lado cristão… deixa lá, não vais compreender mesmo.
Ximb gosto quando passas por cá. Lamento porque olhando para o cenário do nosso país não sei se algum dos nossos partidos têm uma posição definida.
Maguezi traz exemplos de esquerda e direita, Mutisse também fala da deslocação dos camaradas para a direita. Mas não sei se realmente temos algum partido de esquerda. Não sei se os camaradas têm a certeza se querem ir a direita ou voltarem a esquerda. Me parecem mais equilibristas.
A Renamo tem, como diz Maguezi um único objectivo: combater a Frelimo! Mas não está claro o que fará, a sua ideologia depois de dar KO aos camaradas. MDM… também não sei.
Basílio também acho que temos mais 30 pessoas e não 30 partidos. As decisões de apoio são tomadas numa reunião onde participa apenas um elemento… o presidente. Este depois comunica a sua secretaria e ao secrectario geral do partido (os que têm SG).

Júlio Mutisse disse...

Depois de CAPADO não há vida. Eu suicidaria-me se um dia fosse capado e o meu capador não me fizesse o favor de mandar-me desta para a melhor. Graças a Deus ando atento aos traficantes de órgãos humanos valiosíssimos como esses, montei defesas anti capamento e nem "ajudo" marido de ninguém a cuidar da sua mulher (entendem né?).

A FRELIMO abandonou a esquerda clássica, aquela da economia centralmente planificada e moveu-se + para direita para a liberalização do mercado e todas as suas consequências (o aparecimento de elites económicas, políticas e sociais) que ela tem que defender e fazer valer. Aliás, a FRELIMO, ultimamente vem fazendo um esforço de criar elites. Retiro isso até das palavras de AEG no seu blog a propósito dos 7 milhões que "podem ser vistos como uma arma para tornar a economia Moçambicana mais inclusiva em vários sentidos" na medida em que "a facilidade para que indivíduos de extractos sociais humildes, que de outro modo não teriam como financiar as suas iniciativas económicas, tenham a possibilidade de serem actores reais na vida económica do país" desta forma estamos a financiar a criação de elites empreendedoras/empresariais a nível local/distrital (os 7 milhões são para gerar riqueza). Portanto, é impossível qualificar a FRELIMO como de esquerda pura.

Embora se mostre esta abertura ao mercado livre até constitucionalmente consagrado as reservas quanto a liberalização pura em muitos sectores mostram resquícios do esquerdismo e uma preocupação com o social que, quanto a mim, a colocariam no centro do furacão esquerda direita.

O MDM ainda é um bebé tem que se afirmar para ser percebido e, eventualmente, colocarmo-lo em alguns dos polos gravitacionais entre esquerda e direita.

A Renamo...

Os outros ...

Sem palavras

PC Mapengo disse...

Mutisse, já vi que não percebes nada dos ensinamentos cristãos quanto a ajudar (incondicionalmente) o próximo. haaaaaaaaaaa
É assim mano, penso que estaríamos a correr num risco se olharmos para a esquerda como sinónimo de pobreza ou de não criação da riqueza. Penso que o lento crescimento económico das políticas de esquerda tem a ver a crença de um crescimento colectivo e de igualdade onde não se encoraja a competitividade. Mas isso não quer dizer que a esquerda não pode criar riqueza.
É claro que a Frelimo que se olhar ao espelho e ver um partido de esquerda mas entrou num corredor em que precisa correr, em que é preciso que alguns avancem e talvez a ideia é que quem estiver encima puxe o outro. Mas não seremos egoístas suficientes para tirarmos escada para não sermos alcançados?
Aí é que está quanto a mim o dilema dos camaradas, estar na esquerda e usar métodos da direita.

Ximbitane disse...

Parecia-me que o Maguezi ja me tinha esclarecido. O Mutisse vem com novos "pesos" e pende a balança para direita... Eixi!!!

PC Mapengo disse...

Sim Ximbi
Depois de Maguezi as coisas pareciam claras. mas só pode ser claro quando olhamos para o geral. quando transladamos para o nosso contexto as coisas complicam-se. Segundo meu mano Mutisse, a Frelimo é da esquerda não pura a caminho da direita. a Renamo diz que é de centro direita?!! MDM prefiro confiar no tempo. os outros Ok, esses são outros

Noa Inácio disse...

Mapengo,

Hehe heheh heheeh .... Sou muitissimo novo para entender certas coisas, para nao queimar os fusiveis deixa falar do que e mais facil.

Olha repito, os partidos, candidatos e politicos que nao tiverem lido, O ULTIMO RECREIO vs Como fazer politica para ganhar eleicoes, de Egidio Vaz e Noa Inacio respectivamente, nao terao tempo sequer para saber se sao de centro ou direita, se devem ou nao aceitar apoios de gente que nao apoia nada, porque a sociedade acordou e acordou do seu ponto mais irreverente a JUVENTUDE. Mabo para 2014 nao falta muito. Komani Komani a tempestade vem vindo

Antonio Antique disse...

Estamos a caminho de 2014, mas por enquanto não há esquerdas nem direitas. E acredito que a situação vai prevalecer até lá. Não d+á vontade nenhuma fazer política por essas bandas, a oposição não existe.

Antonio Antique

Júlio Mutisse disse...

Camaradas, pelos discursos, pelos actos, por aquilo que vemos podemos ou nao qualificar os nossos partidos?

Por exemplo, do discurso actual do mdm para onde o podemos "empurar"? A Renamo... Em funcao das suas ideias esta mesmo no centro direita? Nao me parece. Voltarei