Difícil não é lutar por aquilo que se quer, mas sim desistir daquilo que se mais ama. Eu desisti. Mas não pense que foi por não ter coragem de lutar, e sim por não ter mais condições de sofrer!
Bob Marley
A Rosa Langa
Por todas as inconfidências
e tudo que nos rimos e sonhamos.
Querida Rosa Langa,
O ano começou e ainda não tivemos tempo para falarmos sobre os teus grandes projectos. Espero que esta carta te encontre em tua melhor forma, como uma verdadeira 4X4.
Falando de projecto “nha” Rosa, na terça-feira com a corrida pela tomada de posse dos deputados provinciais fiquei preso a notícias de todos os cantos e me esqueci de te escrever. Por todas as razões tinha de ser para ti a minha primeira carta deste ano.
Sabes maninha, ando desesperado a procura de algo que me surpreende. Quando oiço o General Líder Mais Bonito e Jovem Dhlakama a falar, por causa daquela sua “determinação” herdada nos longos anos da luta, espero sempre para ver o que realmente irá acontecer. Tu me conheces “nha” Rosa e sabes que a violência não é minha praia. Mas acredite que eu gosto do discurso do general e me ponho sempre na expectativa para ver qual será o final da novela que ele escreveu.
Foi, acredite mana, num misto de alegria e pena que vi os deputados da Renamo todos elegantados nos seus fatos para tomarem posse. Era como se assumissem um ar de desafio a liderança do General. É como se o tigre tivesse perdido toda as suas garras e se valesse apenas da pele para amedrontar as crianças.
As “más línguas” (?) dizem também que os próprios deputados eleitos para a Assembleia da República vão desobedecer o líder, não por causa do seu compromisso com a pátria, em particular os seus eleitores, mas pelos 40 mil de meticais que os esperam naquela casa do povo. É coisa para se dizer isso mana?
Eu prefiro acreditar que o farão por um dever patriótico. Mas se tu, minha querida irmã, pudesses, ao teu jeito, fazias uma edição das Inconfidências de Dhlakama, quem sabe se ele não nos diria o que realmente vai na sua alma.
Querida Rosa, sei que estas coisas de política te deixam mal disposta.
Não é tua praia!
Por isso que vou parar apesar de não me faltar a vontade de te falar da entrevista de Daviz Simango ontem, principalmente quando faz um recuo a história da Frelimo até a morte do seu pai. É interessante ver como ele bebeu dos camaradas, me pareceu guardar tumularmente um segredo, uma espécie de pacto de sangue dizendo simplesmente que “alguém vai contar”.
Bom, maninha, sei que me dirias simplesmente que isso é com eles. Sei como foges dessas coisas. Precisas apenas de curtir uma boa música, pegar tua muchila e descobrir sítios onde há gente que acredita que Samora ainda é presidente de Moçambique, onde quem tem uma bicicleta para ir a Malawi comprar açúcar para vir vender em kwacha porque nunca pegaram metical.
Olha “nha” Rosa, pensei em te escrever esta carta na madrugada de dia 2 de Janeiro, na ressaca de “ano novo”. Sabes companheira, naquelas horas que nos achamos ricos, tiramos cadeiras e nos deixamos estar no meio de uma das ruas do meu T-3. Um dos meus amigos estacionou seu carro, abriu as portas e ligou, qual poderoso, num bom volume para que todos ouvíssemos a forte voz de Jeremias Ngwenha.
Mana, não te posso jurar que estava lúcido, não havia condições morais para minha lucidez naquela hora, mas eu podia ouvir de verdade Jeremias Ngwenha. Acordei estes dias todos lembrando os seus temas e os repetia mentalmente para que não me esquecesse do quanto não paramos para pensar nisso.
Penso que Amosse Macamo (como vai mano?), um especialista em música moçambicana ainda não se deu tempo para olhar para a morte de Jeremias como o fim da crítica na música. Sei que é exagerado chamar a isto de fim mana Rosa, e que o justo seria o silêncio.
Os rappers, mais pela origem do próprio estilo em que os Ganster Rap se evidencia como um ritmo de pretexto, onde a letra é mais importante que toda a componente da música, se esquiva desse papel.
O rap moçambicano me parece estar mais talhado ao que se considera “música de revista”, mais ao estilo dos jornais que vão relatando “o povo está com fome e saiu a rua”, e quando quer pegar pesado vira-se contra um dos seus companheiros.
Na segunda-feira fiquei a olhar para TVM passando uma série de música Rap e chamou-me atenção YoYo, primeiro pelo título da música “Mesmo Bandido”. Depois era a letra onde assume “sou gangster armado” e manda recados fortes a Danny OG.
Esta é uma faceta do Rap, mas acho que rhythm and poetry do nosso país pode ser muito mais explorado como já o fizeram bem os G-Pro em “País da Marabenta”.
Voltando a Jeremias Ngwenha, mana, o que gostava dele é a capacidade de fugir desse estilo de revista é nos oferecer coisas que vivemos nos nossos dias como se fosse uma descoberta sua. Te lembras de “vada voche”? – penso que é assim que se escreve. Ele abandona o estilo clássico de poesia que, curiosamente encontramos no Rap, falo de versos em rimas, e assume o lado “vadio” para nos alertar que há gente que se esquece que nós existimos.
Jeremias não era adorado pelos seus “olhos azuis”, mas por uma mistura de espectáculo, música e letras que cada um que subia “chapa la ni kakaulhula” sentia na pele o que é estar numa bicha que não anda.
Percebes o que estou a tentar dizer “nha” Rosa?
Estou a falar de letras não muito eruditas ao estilo de “povo no poder”, mas sim de uma “surpresa” que Jeremias apanha em “Kase Ka Maputso ku ta”? Algo como “afinal Maputo é assim?” e ele começa a descrever os dissabores e o fim de sonho que atinge todos que olham para Capital como a terra onde tudo acontece.
“Nha”Rosa, o ano ainda está a começar e sei que vamos ainda nos encontrarmos para um mousse de chocolate.
Até lá maninha, espero que a segunda edição do teu livro Moçambique, Mulheres e Vida volte a esgotar como a primeira.
Um beijo, sem nenhuma inconfidência.
PC
7 comentários:
So tu para nos fazeres rir das nossas tristezas...
Ola Erva
Obrigado por teres passado por aqui. Por vezes temos de rir para não chorar.
Mapengo, acho que haverá muito pouco a acrescentar na novela do Tio Afonso. Podemos arastar um pouco mais o enredo mas, visivelmente, a história já não tem por onde se pegar. Acabou, vamos recriando episódios antigos.
Mapengo, acho que é um pouco "pesado" afirmar que sepultamos a crítica na música juntamente com o Jerry Nguenha. Há outros, não têm se calhar a visibilidade e as oportunidades que o finado Nguenha teve. Cadê o ngoma? Os espetáculos de multidões e não os exclusivistas e elitísticos do Coconuts? Foi naqueles espetáculos e programas sérios de Música que celebrizamos o Nguenha. É assim que o vejo. Mas do ponto de vista de conteúdo,o Nguenha era fora de série, era crítico sem ser malcriado, era "a voz do povo" sem insultar ninguém como o fazem outros críticos.
O Rap é outra coisa. O Gpro foi o fenómeno crítico mais mediatizado mas escute "Greve geral" do Estaka Zero sentirás o mesmo flow crítico, o mesmo vigor. Infelizmente estes rapazes se perdem em picardias que pouco os dignificam mas quando decidem (pelo menos alguns - 2 Caras por exemplo) fazem algo de se tirar o chapéu. Escutar "Geração TV " de 2 caras é um regalo para o que te digo sobre a capacidade destes tipos de produzirem algo sério.
PC
Não há nenhum poder que assume a crítica e vitimiza-se quando se trata dessa matérias, diaboliza, chama nomes, reprime e esclui os críticos como forma de obrigar o mutismo deles enquanto isso os intelectuais orgânicos vão se dedicando também à procura dos lugares simeiros vias mensagems se parecem a embaixadores de boa vontade então os nossos críticos chegam a falar sem falarem nada só fazem eco!....
Mutisse os que insultam os outros o lugar deles é na cadeia mano.
abraços
esclui fica exclui
E não é que, surfando na net, ana busca de "produção poética" sobre a Matola (na verdade ñem eu sei o que busco em concreto), dou de caras com este blog... K'ganda satisfação. And you know what i mean... É claro que vou estar "ín touch" doravante. Cheers
Fuss III
espero realmente que passes por ca mais vezes. de verdade Homer L.
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