quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Promessas Por Não Cumprir

A essa mulher

que não a quero mais amar

"Ao perder a ti, tu e eu perdemos

Eu porque tu eras a que eu mais amava

E tu, porque eu era o que te amava mais

Contudo, de nós dois, tu perdeste mais do que eu

Porque eu poderei amar outras como amava a ti

Mas a ti não te amarão como te amei eu"

Ernesto Gardenal, poeta de Nicarágua

Matola, 5 de Agosto de 2009

Não vamos mais bailar em Zanzibar

Hoje sei o quanto vale o tempo que perdi do teu lado meu amor. Faço o balanço dos momentos e tenho como saldo todas as promessas que fizemos e os sonhos que não concretizamos.

Percorro os becos da minha existência e me apercebo de que o tempo não seguiu os meus passos, corri contra ele para preservar a minha juventude e fazer com que nunca chegasse a despedida.

Hoje sei amor, que tenho de saborear a tua ausência. Me refugio na solidão da Rosa das Noites Perdidas. Aquela que dizem ser louca porque não compreendem a vontade dela de ajudar gente que se perde nas noites da bebedeira.

É, meu amor, para se possuir Rosa das Noites Perdidas precisa-se de uma bebedeira de coragem. A sua boca desdentada ganha lindos dentes brancos. Só assim se apreciam aqueles escuros lábios com beijo com cheiro a cigarros e cerveja podre que se conserva neles.

Muitos dizem que me aproveito da fraqueza alcoólica dela amor. Não compreendem a falta que me fazes, a vontade que tenho de fugir desta ausência e me encontrar perdido no nada. A Rosa me oferece esse reencontro de tristeza. Ela precisa da minha cerveja para sorrir e eu preciso dos frios braços dela para pensar que te esqueci.

Depois, quando me solto dos braços dela, sinto que te trai.

Esfrego os lábios para me esquecer daquelas horas de sexo com cheiro a cigarros e cerveja podre. Juro que não te procuro mais. Juro que te amo mas sei que não te quero.

Fujo de ti, das tuas recordações, do sonho de dançar em Zanzibar e sentir o vento a assobiar.

Como assobia o vento meu amor?

Não paro para ouvir a tua resposta. Debato-me para fugir como ao fantasma. Dizem que a melhor forma de se fugir dos fantasmas é se aproximando deles. É isso que faço para te esquecer. Me sufoco no teu perfume para poder me libertar de ti. Me revisto de estupidez e te enfrento com a debilidade de um caçador que enfrenta o leão uma arma.

Sei que vais sufocar. Sei que me vais matar, sei que te vou desejar e sei que não poderei escapar.

Quero me entregar a ti para poder te esquecer.

Mas eu sei que não mais vamos dançar em Zanzibar.

Mesmo assim, vou correr atrás de ti para te perder.

PC

8 comentários:

Nyabetse, Tatinguwaku disse...

Eish, os conflictos da paixão, da possessão e da natureza humana... Precisa amar para amar? Precisa ter para amar? Precisa amar para ter? E deixar ir, é possível amando? Afinal há quem diga que amar é a libertação... Mas é love mesmo ou é paixão passageira e dolorosa?

Eish Mapengo, voce também com as suas cartas...

Jinhos, Nyabetse

PC Mapengo disse...

Ola Nyabetse
tantas perguntas assim também me deixa baralhado.
é complicado deixar ir amando. Mas será que mesmmo amando nos é saudável prender quem não nos ama?
Por vezes é bom perder para podermos ganhar. mas como sabemos se este é o momento certo para perder?
Obrigado por teres passado pore ca Nyabetse e lamento não ter respostas para tantas perguntas. aliás, tenho mais perguntas para tantas perguntas tuas.

Lyah dos Anjos disse...

Nossa, muito profundo!!! e bem colocadas as palavras... parabéns.

Julio Mutisse disse...

O meu puto sempre apaixonado; quem é desta vez?

Esta carta faz me lembrar, "Amor, Não te Traí".

Esta carta e mais outra (surpresa) vão ao livro...

Ximbitane disse...

Bela e profunda justificação de actos insanos. "Sinto que te trai"? Sente ou traiu? Sera uma manifestação de arrependimento? Ops!!!

Julio Mutisse disse...

Xim, ele está "nos frios braços dela para pensar que" lhe esqueceu, por isso que quando se solta, e porque não esqueceu, SENTE que a traiu.

Só pode sentir que a traiu porque ele "perdeu" tempo ao lado desse seu amor e não concretizaram promessas feitas; não estão juntos, só o sentimento que ele tem por ela lhe traz um sentimento de culpa de a ter traído isto se é que percebi BEM.

Hehehehe Mapengo, "ele" "sente" ou traiu?

Ximbitane disse...

Opa, Mutisse, nao duvido que tenhas percebido BEM. Eu percebi da minha maneira e como bem disseste sou sensivel a traiçoes... Mea culpa! E que sejam felizes as almas desavindas

PC Mapengo disse...

Júlio
Percebeste bem mano
Penso minha querida Xim que há um momento numa relação que por mais que tenha chegado ao fim nos resta esse sentimento de culpa, principalmente quando o ponto final não foi colocado por nós. Pensamos sempre que ainda há hipótese para voltarmos.
Mutisse também sinto que esta carta me fazia correr para “Amor I Love You” pela sua estrutura mas não tinha como evitar.

Lyah

Obrigado por teres passado por este meu canto neste dia quase sentimental