terça-feira, 21 de julho de 2009

Direitos Humanos, Imprensa e Industria farmacêutica

Repensando HIV

A AIDS é muito mais que uma doença.

É um símbolo alternativo incessante

de repressão governamental,

um distintivo da desesperança e da desgraça;

um símbolo da tragédia da liberação;

uma indicação de que Deus não existe,

ou um símbolo de que Deus é cheio de ódio.

In Mentiras, Falsas Maldições & AIDS de Brian Doherty

Matola, 21 de Julho de 2009


Para Custódio Duma

Meu apóstolo dos direitos humanos

Meu mano Duma, na semana passada revisitei meu novo filme preferido, o documentário 20 Milhões por Detrás Dos Números. É, mano, o que mais me fascina nesse documentário feito por uma equipa de jovens moçambicanos da Rádio Transmundial/Capital, é que tudo relacionado com o HIV/SIDA é transformado em números.

E são números que contam mano. E são eles que deixam claro que desde a peste negra que o mundo não enfrentava uma grande catástrofe como a provocada pelo HIV/SIDA.

Te dizer simplesmente isto Duma seria simplesmente me posicionar no muro do lugar comum e repetir que, 9 anos depois, se concretiza a profecia do “ano 2000 é o fim do mundo.”

É verdade que HIV/SIDA já não é um problema dos outros como antes que não conhecíamos ninguém e hoje muitos olham ao espelho para verem um seropositivo. Então onde é que estamos a falhar?

Para mim Duma falhamos desde o princípio. Falhamos na identificação, falhamos nas campanhas, falhamos na abordagem e falhamos na catalogação da doença.

O que quero dizer Duma é que na questão de HIV nos apegamos sempre em uma única linha de orientação e ignoramos outras tantas, fazendo delas o nosso cavalo de batalha. Como é que são tratados os dissidentes das versões oficiais sobre HIV/SIDA como Thabo Mbeki?

Seria especular demais fazer uma ligação directa do desgaste político de Thabo e o seu cepticismo em relação a posição universal sobre o HIV/SIDA.

Para Benki não há uma ligação directa entre o vírus HIV e a SIDA. Esta insinuação punha em causa toda uma estrutura montada pelas grandes potências para o combate ao HIV.

O mais importante Duma é veres até que ponto os democratas despiram as máscaras e silenciaram violentamente Mbeki. A opinião dele foi completamente censurada dos grandes órgãos.

Segundo Gevisser quando perguntou qual foi a maior mágoa de Mbeki enquanto chefe de Estado, ele respondeu ter sido quando foi “persuadido em 2002 por membros do governo e do seu próprio partido a não expressar abertamente os seus pontos de vista sobre o HIV/SIDA.”

Não é minha intenção, mano, discutir contigo a questão de liberdade de opinião, de expressão ou de tantas outras coisas que, oficialmente, são nossas liberdades.

Olha que o que Mbeki defendeu durante o seu mandato não era nada de novo. Embora a imprensa, principalmente a ocidental tenha aparecido com grandes destaques a apontar para aquela posição como exclusiva do presidente sul-africano e a sua ministra de saúde, a negação do que chamam de posição “científica” já vem sendo feita quando a ANC não passava de um movimento rebelde.

Robert Root-Bernstein em Rethinking AIDS procurou mostrar o desmoronamento das abordagens científicas e de saúde pública americana. Mas na lista dos dissidentes podemos destacar o Biólogo Molecular Peter Duesberg, que em Março de 1987, na revista científica Câncer Research, se deu ao luxo de desafiar a afirmação “cientifica” de que o HIV causa a SIDA. Para o castigar, o Instituto Nacional de Saúde o notificou para que ficasse a saber que em Outubro de 1990 o seu “Outstanding Investigator Grant” (título importante dado a cientistas também importantes), não seria mais renovado depois de 1993. Neste grupo também podemos encontrar nomes como Charles A. Thomas, um Professor Bioquímico de Harvard, que pertence ao grupo de retrovirologistas, epidimiologistas e imunologistas que questionam o dogma do HIV.

No entanto meu irmão, como Thabo Mbeki, estes grupos todos se esquecem que há uma grande indústria farmacêutica por detrás da questão de HIV/SIDA e qualquer questionamento a posições oficiais pode pôr em causa toda uma indústria que nos anos 1970/80 estava em crise e que HIV veio salvar.

Podemos recorrer a uma ideia simples para procurarmos compreender a posição política por detrás de toda esta máquina mortífera de fazer dinheiro que é a SIDA.

Quando a poderosa América quase que se vergava sob o peso de uma doença que matava gente de entre os 20 e 40 anos, no dia 23 de Abril de 1984, Magaret Heckler, Secretária de Saúde e Serviços Humanos do Governo de Ronald Reagan, como escreve Brian Doherty “orgulhosamente anunciou que o médico americano, Dr. Robert Gallo, tinha descoberto o vírus que causava a SIDA: um retrovírus, supostamente isolado e tido como o causador de Imunodeficiência Humana.”

No entanto não demorou o aparecimento de provas indicando que o vírus havia sido descoberto antes em Paris por Luc Montagnier que o mandou a Gallo para comparar com o vírus que dizia ter descoberto.

Para evitar um escândalo, já que o governo americano correu para dispensar biliões de dólares na tese de Gallo de que o HIV era o única causador de SIDA, a saída foi se assumir uma co-autoria sem antes se confirmar essa ligação directa que gente como Mbeki procura negar ou reivindicar outras pistas.

O triste papel de parvo que Mbeki e outros tantos dissidentes desempenharam foi possível por não terem avaliado claramente o impacto dos seus discursos perante a indústria farmacêutica que se apegou na teoria de Gallo para se salvar da catástrofe. Ou talvez Mbeki acreditou que a sua posição de chefe de Estado o tornava imune ao poder das farmacêuticas.

Apoiada na imprensa, a indústria farmacêutica pegou no Mbeki e o esfregou no chão lhe atirando com as culpas de “maior responsável” pelos elevados índices de HIV/SIDA no seu país.

A outra coisa que Mbeki, a sua ministra de saúde, Tshabalala-Msimang, e outros dissidentes se esqueceram, como escreve Brian Doherty, é que “o século XX caracterizou-se por três desenvolvimentos de grande importância política:

O crescimento da democracia; o crescimento do poder corporativo, e o crescimento da propaganda como meio de proteger o poder corporativo da democracia”. Eles ignoraram isto para o caso de saúde.

Mbeki não só ignorou a capacidade das grandes indústrias influenciarem os media como também pegou pesado quando na sua biografia disse que “os cientistas da SIDA são comparáveis aos médicos dos campos de concentração nazis.”

Mas não é só a indústria farmacêutica que encontrou no Sida uma salvação. Muitos outros grupos recorreram a esta pandemia para construírem as suas posições sociais e económicas e o resultado foi o surgimento de senhores ilustres e a propagação do HIV/SIDA.

É importante ver que nos princípios, mano, a questão de HIV/SIDA era da responsabilidade da medicina e da biologia. Foi preciso uma reivindicação dos cientistas sociais para que fosse visto como uma questão saúde pública ou social.

É nesse contexto que entra a indústria de publicidade e outros grupos corporativos. E pergunto até que ponto as organizações dos direitos humanos prestaram atenção a campanha contra sida?

As primeiras campanhas da doença faziam uma ligação directa da morte e HIV/SIDA. “SIDA mata malume”.

Era como se não nos deixassem nenhuma chance e que logo que contraíssemos o vírus a única saída era encomendar um caixão.

A ideia de terror esteve por detrás de campanha de salvação da indústria farmacéutica. Heinrich Kremer procura uma justificação simples para essa ligação:

“É evidente que se não tivéssemos um vírus para temer, as pessoas teriam começado a pensar na catástrofe farmacêutica e isso, poderia ter consequências imprevisíveis.”

Se prestares atenção vais ver meu irmão que as campanhas contra sida foram com o tempo se baseando mais na promoção do preservativo que nas ideias morais de abstinência e fidelidade.

A promoção do preservativo parte do princípio que todos são propensos a sexo e não vale a pena nos esforçarmos para mudar isso, tudo na gasta ideia de modernismo.

Quem quer ser atrasado meu irmão?

Mas nos esquecemos que a promoção de sexo está, até certo ponto, directamente ligado a promoção do preservativo. Começamos a assumir que todos, até crianças de 13 anos são sexualmente activas. No lugar de nos esforçarmos para mudar nos conformamos: “o mundo é assim, não podemos fazer nada”.

Ou como dizia uma freira brasileira “não digo para fazer mas se fizer use camisinha.”

E a crise começa por aí.

A minha amiga Tomásia fez um trabalho de licenciatura sobre as campanhas de combate ao HIV com outdoors. Ela testemunha o choque que muitos tiveram nos distritos em que ela trabalhou por verem jovens casais em poses sensuais “Nós sabemos o que se passa na tua cabeça.”

Segundo Tomásia a mensagem desejada não passava porque os habitantes desses distritos o que viam naquelas campanhas eram simplesmente poses pornográficas que punham em causa o seu modo de vida, desviavam as suas filhas e abalavam toda a educação de anos que pretendiam transmitir para seus filhos.

Esse é o erro de campanhas generalistas que podem servir bem na cidade de Maputo e não servirem nesta minha Matola.

Posso pegar num exemplo que passava nas nossas TVs, de uma menina adolescente que diz a mãe que vai sair com João. No lugar de – como faria dona Paula minha mãe, naquela idade – dizer não “volte tarde”, a mãe dela pergunta “levaste o preservativo?”

Olha Duma, a mãe parte do princípio que a filha ao sair com o João vai cair na primeira cama que encontrarem. Pode ser uma forma de combater a propagação, mas é mais uma forma de vender o preservativo promovendo a prática de sexo, pois os números continuam a elevar-se.

O que seria de preservativo sem relações sexuais?

O risco de “façam mas com preservativo” em detrimento de “adie o sexo para mais tarde” tem seu impacto nos números.

Nós, mano Duma, sabemos. Já ouvimos ou já dissemos que “o preservativo furou-se numa altura que não dava para parar”.

Qual é a altura que não dava para parar?

Se pessoas crescida não “dão para parar” o que acontece com um adolescente de 12/13 anos?

Olha mano, muitas vezes, como escreve Brian Doherty “o senso comum diz: Nunca acharão a cura do câncer por causa do montante de dinheiro envolvido. Não sei se isso é verdade para o câncer, mas é para a SIDA.”

Sendo assim, a questão de SIDA – os doentes, os panfletos, camisetes distribuídas, retrovirais, grupos patrocinados, pessoas atingidas pelas campanhas – não passa de números. Números do que se ganha, números que se perdem, número dos trabalhadores que não trabalham, número dos contaminados, números das pessoas atingidas pelas campanhas, números que reduziram ou aumentaram.

Nesta situação o que se tem feito no combate a sida é pegar-se numa única vertente de cura – que favorece os números; uma única vertente de campanha – que ajuda a contabilizar os números; uma única forma de olhar as vitimas – que são números dos contaminado e que já consomem os AZT.

Não há muita preocupação com o que está por trás dos números e sendo assim não se pode falar dos direitos humanos.

Como podes falar dos direitos humanos dos “sem rostos” ou dos números.

Como podes falar dos direitos humanos de pessoas que foram roubadas o lado humano?

Aquele abraço, irmão.

PC

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