terça-feira, 25 de agosto de 2009

Os 2 Minutos Fatais

Pedi você para me esperar cinco minutos

Cinco minutos apenas

Você foi embora…

Você não sabe quanto valem cinco minutos na vida

Marisa Monte in Memórias, Crónicas e Declarações de Amor


Matola, 25 de Agosto de 2009

Para meus amigos que valorizam o tempo

Quanto valem dois minutos?

Não sou um escravo de relógio suíço, logo tenho dificuldade em ser pontual embora me esforce para isso. Mas, meus companheiros, isso não faz com que eu não tenha noção que o tempo é, realmente, dinheiro. Neste caso, o tempo vale uma candidatura.

Não sou um apaixonado político como o meu amigo Egídio Vaz e meu irmão Mutisse, mas isso não quer dizer que seja distraído quanto os nossos políticos. A sede de poder que se verifica, pelo menos nos discursos dos nossos políticos não corresponde aos esforços que eles fazem para chegar lá.

Temos políticos?

Me diverte essa distância entre os actos e palavras.

O líder da União Africana para a Salvação do Povo Africano, UASP, está a fazer uma corrida para recuperar o tempo perdido, neste caso os dois minutos que diz ter se atrasado, para inscrever o seu partido. Para ele “dois minutos não é nada”. Até pode “não ser nada”. Mas se estamos a falar de um país que já atrasou 500 anos – este é um outro debate já que António Muchanga da Renamo diz que a história mente quando fala de 500 anos de ocupação europeia –, escrevia que estamos a falar de um país que não pode mais se dar ao luxo de perder dois minutos.

Infelizmente, a mim não surpreendem as declarações do líder de UASP porque tenho prestado atenção as declarações políticas dos partidos na oposição – é assim, não é mano Vaz – e todos eles, digo TODOS ELES, só têm um único ponto nas suas agendas: tirar a Frelimo do poder.

Nenhum desses partidos apresenta um plano daquilo que fará quando chegar ao poder. Yáqub Sibindy do PIMO já veio dizer que não tem ideologia. O mais engraçado é que não é sem ideologia, sem orientação e sem ideias claras. Ele teve a coragem, que falta a todos os outros, de o assumir publicamente.

Quando as eleições se aproximam, todos estão ainda preocupados em reclamar as suas inscrições.

Estamos perante grupos desorganizados que esperam de atirar as culpas para os outros. Todos esses partidos e candidatos sabiam quando é que as inscrições iriam terminar. Conheciam as regras de jogo para participarem nas eleições e esperaram para o fim.

Meus companheiros, para qualquer vitória precisamos nos organizar e tempo é o elemento principal nessa corrida. É preciso saber fazer do tempo o seu aliado principal. Essa aliança não pode ser com perda de segundos mas sim fazer com que eles sejam excessivos.

Deixar as coisas para o fim, mas para um leigo político como eu, não é, de certeza uma boa estratégia.

Aquele abraço

PC

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Luta de Libertação Não Libertou o País?

"O vento da mudança está a soprar

por todo o continente [africano].

Gostemos ou não deste crescimento

da consciência nacional,

é um facto político...

Nossas políticas nacionais

terão de considerar isto".

Parte do discursos

do então primeiro-ministro britânico

Harold Macmillan,

proferido em fevereiro de 1960

em Cape Town, África do Sul,


A Anselmo Titos,

meu velho companheiro

de todas as grandes batalhas

Foi como um choque para os libertadores. A luta de libertação não foi determinante para a independência de Moçambique. Philippe Gagnaux disparava assim no debate de Jeremias Langa do domingo.

Olha Anselmo Titos (AT), como podemos olhar para esta afirmação num país em que através da história fomos ensinado a olhar para os camaradas como “os salvadores de uma nação condenada”?

A forma como Philippe Gagnaux olha para a luta de libertação é completamente fria dizendo claramente, Titos, que com ou sem a intervenção dos camaradas Moçambique seria independente.

Deixe-me contextualizar-te isto mano.

Discutia-se a ideia que alguns dos nossos heróis têm de que o facto de terem perdido a sua juventude pelas matas para conquistarem a independência lhes dava o direito de destruírem a nossa pátria amada e acumularem riqueza só para eles.

A negação do papel “determinante” deles para a nossa independência tem, mano, a ver com esta posição e, lhes dizendo isto, penso que é para sobrar a ideia de “não nos fizeram nenhum favor”. E, não nos tendo feito algum favor porque o “destino, levasse o tempo que levasse, estava escrito” eles não têm nenhum direito de nos tornarem mais pobres depois da “suposta libertação”.

Para Philippe Gagnaux, o golpe de estado de 25 de Abril de 1974 foi mais determinante para a nossa independência que a luta de libertação. Portugal, segundo aquele médico/político, sofria mais pressão das grandes potências que dos movimentos nacionalistas de libertação nacional.

Veja Anselmo como Philippe Gagnaux coloca os passos ou pressões ao governo colonial para dar independência a Moçambique: “potencias internacionais e golpe Revolução de Abril de 1974.

É verdade que estamos a falar de um período, quando se cria a FRELIMO, em que sopram os ventos de mudança.

Para Philippe Gagnaux os jovens que mais tarde se tornariam em camaradas se aperceberam desses ventos de mudança e se juntaram para aparecerem na linha da frente no benefício de independência. É desse marcar de posições frontais que Gagnaux encontra explicação de tantas mortes nas fileiras frelimistas.

Olha AT é verdade que não foi a luta armada que decidiu a independência. Em qualquer Estado a vitória de um povo não é determinada por um único fenómeno. Mas tirar o mérito dos velhos guerrilheiros é também não querer olhar as coisas de uma maneira clara e fingir que o mundo é cor-de-rosa quando possui outras cores.

A independência de um estado é determinada por uma conjugação de fenómenos, entre eles, no caso de Moçambique, a luta armada. Mas isto não é para legitimar, de nenhum jeito, o direito de os velhos camaradas delapidarem as riquezas desta pátria amada simplesmente porque perderam a sua juventude nas matas.

É verdade também que com ou sem a guerra de libertação Moçambique seria independente. Mas quanto tempo teria esta terra de heróis de suportar o jugo colonial? Quanto tempo teria de suportar a descriminação clara e aberta com base na cor? Quanto tempo teria de continuar portugueses da segunda no lugar de sermos moçambicanos da primeira por pleno direito?

Mas isto tudo é “se” e eu como historiador não posso me dar ao luxo de me basear nos “ses”.

Mano AT, depois da Segunda Guerra Mundial e o surgimento de fortes movimentos nacionalistas, a manutenção de controlo dos territórios africanos em forma de colónia não fazia mais sentido.

Muitas potências europeias se apercebem dessa mudança da conjuntura mundial e sentem que continuar a dominar os africanos, com todas as ideias nacionalistas que foram surgindo não era viável. Era pôr em causa todo o investimento que fizeram desde a sua corrida pela África. Os preceitos de Conferência de Berlim já não faziam sentido em pleno século XX.

Não era preciso se ser inteligente para, como o antigo primeiro-ministro britânico Harold Macmillan, se aperceber que já sopravam os ventos de mudança em África. Não sei se portugal não se apercebia disso, mas em Moçambique também já sopravam os ventos de mudança. Veja só como se efectua a mudança de discurso de ilustres senhores como Rui de Noronha e os irmãos Albazines que defendiam uma “humanização do colonialismo” para uma invenção de “um país que ainda não existe” por Craveirinha ou a força poética de separação de nação em “deixe passar o meu povo” de Noémia de Sousa.

Olha AT que em “deixe passar meu povo” a poetiza deixa claro que existe um povo destas terras do índico que não tem nada a ver com o português nem da primeira nem da segunda. Há muitos outros artistas, académicos e religiosos que deixam claro para o governo colonial português que “os africanos têm sua própria identidade” que não tem nada a ver com a portruguesa. E surgem, principalmente nas igrejas africanas discursos radicais como “África para os africanos”.

Sopravam já os ventos de mundança nesta pátria nossa.

Para as grandes potências, continuar a manter esse tipo de controlo é impratícavel. As relações internacionais exigiam uma outra postura. A corrida capitalista precisava, como dizia Macmillan, de uma nova directriz política e ignorar isso era no mínimo estupidez.

O que estou a tentar dizer é que o colonialismo do tipo ocupação efectiva depois da segunda II GM estava fora da moda. Era preciso um outro de influencia nos territórios na altura ocupados, o que muitos chamaram de neocolonialismo. O exemplo de influencia em antigos Estados coloniais temos a parceria Chade/França.

A luta armada de libertação nacional que durou 10 anos teve sua influencia em todos os acontecimentos que se seguiram. Ajudou a desgastar a sociedade portuguesa e contribuiu para a revolução de Abril e isso não se pode negar.

A luta dos camaradas contribuiu para a libertação desta pátria mas isso não dá a ninguem o direito de se intitular o senhor abosluto de Moçambique. Nem todos nós podíamos ir a guerra, mas todos nós, de uma ou de outra forma estamos a contribuir para libertar este país de toda forma de colonização.

Aquele abraço meu irmão, por todas as batalhas que travamos a cada dia.

PC

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Promessas Por Não Cumprir

A essa mulher

que não a quero mais amar

"Ao perder a ti, tu e eu perdemos

Eu porque tu eras a que eu mais amava

E tu, porque eu era o que te amava mais

Contudo, de nós dois, tu perdeste mais do que eu

Porque eu poderei amar outras como amava a ti

Mas a ti não te amarão como te amei eu"

Ernesto Gardenal, poeta de Nicarágua

Matola, 5 de Agosto de 2009

Não vamos mais bailar em Zanzibar

Hoje sei o quanto vale o tempo que perdi do teu lado meu amor. Faço o balanço dos momentos e tenho como saldo todas as promessas que fizemos e os sonhos que não concretizamos.

Percorro os becos da minha existência e me apercebo de que o tempo não seguiu os meus passos, corri contra ele para preservar a minha juventude e fazer com que nunca chegasse a despedida.

Hoje sei amor, que tenho de saborear a tua ausência. Me refugio na solidão da Rosa das Noites Perdidas. Aquela que dizem ser louca porque não compreendem a vontade dela de ajudar gente que se perde nas noites da bebedeira.

É, meu amor, para se possuir Rosa das Noites Perdidas precisa-se de uma bebedeira de coragem. A sua boca desdentada ganha lindos dentes brancos. Só assim se apreciam aqueles escuros lábios com beijo com cheiro a cigarros e cerveja podre que se conserva neles.

Muitos dizem que me aproveito da fraqueza alcoólica dela amor. Não compreendem a falta que me fazes, a vontade que tenho de fugir desta ausência e me encontrar perdido no nada. A Rosa me oferece esse reencontro de tristeza. Ela precisa da minha cerveja para sorrir e eu preciso dos frios braços dela para pensar que te esqueci.

Depois, quando me solto dos braços dela, sinto que te trai.

Esfrego os lábios para me esquecer daquelas horas de sexo com cheiro a cigarros e cerveja podre. Juro que não te procuro mais. Juro que te amo mas sei que não te quero.

Fujo de ti, das tuas recordações, do sonho de dançar em Zanzibar e sentir o vento a assobiar.

Como assobia o vento meu amor?

Não paro para ouvir a tua resposta. Debato-me para fugir como ao fantasma. Dizem que a melhor forma de se fugir dos fantasmas é se aproximando deles. É isso que faço para te esquecer. Me sufoco no teu perfume para poder me libertar de ti. Me revisto de estupidez e te enfrento com a debilidade de um caçador que enfrenta o leão uma arma.

Sei que vais sufocar. Sei que me vais matar, sei que te vou desejar e sei que não poderei escapar.

Quero me entregar a ti para poder te esquecer.

Mas eu sei que não mais vamos dançar em Zanzibar.

Mesmo assim, vou correr atrás de ti para te perder.

PC