- Posso sentar-me?
Tinha uma voz arrebatadora feita de uma sensualidade melódica. Ele levantou os olhos. Nunca tinha visto uma mulher igual. Dizer simplesmente linda era ofensa.
As luzes da disco refletiam sobre os seus cabelos que esvoaçavam num misterioso vento que não dava para perceber a sua proveniência. Era como se ofuscasse a sua visão. Só passados alguns segundos enfeitiçado por aquele olhar e num místico sorriso daquela mulher é que se apercebeu que estava a falar com ele. Atrapalhado, precipitou-se em levantar-se, derrubando os copos na mesa e meio copo de cerveja manchar as suas calças na zona genital.
Não sabia se estendia a mão ou a oferecia a boxexa para dois beijinhos. Prendeu-se nessa indecisão e nada feito a não ser um tímido e gaguejado “sim, claro, pode se sentar”.
Ela desfilou passando por ele sempre com o sorriso colado nos lábios.
Tinha um suave andar de uma gazela desejosa por ser atacada. Tudo nela era perfeito. Era como se antes de ser feita mulher ter sido desenhada, projectada e montar-se peça por peça e cada uma delas com uma missão clara. Era a perfeição.
“Se Deus fez o mundo em seis dias, no sétimo não descansou, dedicou-se a fazer aquela mulher.” Pensou.
Correu do outro lado da mesa para se antecipar e puxar a cadeira para ela sentar-se. Agradeceu-lhe com um sorriso, passou levemente a palma da sua mão pelo rosto dele, sentiu seu corpo tremer e os membros oficiais para isso retesarem-se. A sua mente não lhe obedecia, nada o obedecia. Era tudo mecânico.
- Morri?
Achou que estivesse a pensar, mas os seus lábios reproduziram a fala em alto, superando som ruidoso da discoteca. Ela sorriu.
- Estás sozinho?
- Meus amigos acabam de sair.
Respondeu triste por seus bradas terem ido embora e não poderem apreciar aquilo tudo que estava à sua frente. “Qual é a graça de ter um monumento daqueles sem um amigo para sentir inveja?”
- Eliana - disse ela, naquela sensual e excitante voz.
- Enzo - não sabia se respondeu ou se havia pensado.
Nessa altura o garçom depositava na mesa champanhe e duas taças.
- Não te importas? Tomei a liberdade de pedir bebidas para nós.
O seu coração acelerou. Fez cálculos rápidos e só tinha dinheiro, no mínimo, para duas gongondzas. Como iria pagar aquilo tudo. Baixou os olhos e ganhou consciência da sua realidade.
Uma mulher daquelas não era para beber gongondza.
- Relaxa baby. Posso te chamar baby?
Ele já não tinha certeza. O dinheiro no bolso não dava para pagar essa forma de tratamento. A voz dela o despertou dos seus medos.
- Eu pago as bebidas - ouviu Eliana dizer.
Não podia se dar ao luxo de fingir resistência tipo “nada disso” armar-se em cavalheiro porque ela ainda podia anuir.
Trinta minutos depois já estava num grande love de infância. Enzo puxou a sua cadeira para o lado dela que estava com uma das pernas sobre a sua. Eram beijos e carícias intermináveis.
- Devíamos sair daqui. - Sugeriu Eliana.
Enzo já estava em pé antes mesmo dela terminar de falar. Saiu triunfal com a mulher mais bela daquela noite o pegando pela mão. Um pouco distante do parqueamento tirou as chaves e as luzes de um carro alemão, preto sinalizaram como se os estivessem a chamar.
- Que carro!
- Enzo não queria que ela ouvisse isso.
Eliana sorriu.
- Gostas?
- Se gosto? Adoro!
- Então podes conduzir.
Enzo correu para o volante. Estava fascinado com a mulher e com a possibilidade de conduzir um carro que só via nos filmes.
- Se quiseres pode ser teu.
Disse Eliana quando Enzo estacionava na porta da sua casa na T3. Estava desiludido. Os seus vizinhos fofoqueiros que sempre estavam na rua a qualquer momento, justo naquela sua hora triunfal, ninguém estava para o ver descer daquele carro e dar um longo beijo a uma mulher que não se compara com nenhuma das “paga lá uma” que ele as tem chamado de “amor”.
- Posso te ver amanhã.
Claro que podia.
- Por mim pode me ver até amanhecer - Enzo considerou esta uma frase poética e sorriu logo depois de a pronunciar.
- Não, “chéri”, amanhã tenho que acordar cedo. - Disse Eliana pausando cada palavra com beijos rápidos.
Amanhã chegou.
Ela estacionou um Dodge Charger em frente a casa de Enzo que saiu quase a correr. A sua elegância num vestido creme que a colava o corpo seguindo cada curva da sua fartura africana era agressiva. O seu perfume era palpável. Era uma fragrância física que se colava às narinas.
Pela primeira vez a fé católica de Enzo foi abalada. Achava Deus injusto. “Como podia um ser justo dar toda a beleza e formosura a uma única mulher, quando tem outros que quando estão a ir parecem estão a vir?”
Enzo sorria, mas não por ela, mas por seus vizinhos terem saído para apreciarem aquele carro que transportava uma mulher que parecia sair de um filme com Girl Bond. Ela afastou-se para dar o volante ao Enzo.
O carro entrou num condomínio e os dois entraram numa casa de dois pisos depois de terem deixado a piscina para trás.
“Luzes” - disse Eliana como se fosse voz devia e “fez-se luz”. Toda a casa ficou iluminada para deixar ver mobília da primeira linha e os traços finos do rosto daquela mulher. “Isto é a única coisa que devia ser chamada de mulher”. Disse para si fazendo esforço de afastar do seu pensamento todas aquelas marandzas que só sabem “posso te pedir algo?”
Eliana deixou cair o casaco para o fino vestido colado ao seu corpo realçar toda a sua elegância. Serviu dois whiskys, foi em direcção ao sofá branco, esticou a mão enquanto sorria.
- Vens?
Enzo controlou as suas pernas para não correrem. Pegou ao de leve a mão dela, recebeu a sua bebida, deu um gole ao mesmo tempo que ela. Recolheu os copos, deixou numa mesinha de vidro que estava no centro da sala. Deitou Eliana no sofá, afundou a sua cara nos seus peitos sentindo o delicioso perfume. Tremia todo. Em toda a sua vida nunca tinha pilotado um avião como aquele e nunca sonhou em o fazer.
A sua mão deslizou pelo corpo da Eliana e penetrou pelas zonas quentes à procura das zonas baixos. Num instante parou. O mundo parou! Um grito explodiu na sala.
- ÉS HOMEM!
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