quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Paranóia Colectiva

Paranóia colectiva




Faço um esforço para manter os meus olhos abertos. Acho que este é o negócio final mais difícil de escrever, não pela falta da tal famosa “inspiração”. Estou com o corpo cansado e os olhos a não mais obedecerem-me de tanto sono depois de uma noite circulando pelas

ruas de Infulene nas patrulhas.



O medo instalou-se pelos bairros. O povo decidiu sair à rua para fazer o papel que devia ser da Polícia. Enquanto os dirigentes desta pátria amada se contentam em sentarem-se nas confortáveis poltronas e dizerem que isso não é prioritário, ou como decidiu fazer o ministro do Interior, pura e simplesmente dizer que esse grupo de criminosos engomadores não existe, a população optou por criar as suas próprias defesas.



No fundo, o que o Ministro do Interior, Alberto Mondlane e os outros camaradas fi zeram nestes dias todos, foi optar pela linha mais fácil que, de certeza, não se espera de um Estado onde tem cidadãos que pagam impostos. Dizer que esse grupo não existe é um caminho mais fácil. É o mesmo que aparecer de fato novo e dizer pessoal, foram atingidos por uma paranóia, voltem para casa e durmam em paz. Ainda bem que Sua Excelência Alberto Mondlane veio

mudar esse seu discurso quatro dias depois.



Mas que fique claro uma coisa: pode não existir tal de G20, G1 ou Gzero, mas existe criminalidade violenta em Maputo. Existem pessoas “de carne e osso” que foram assaltadas na paz das suas residências, agredidas, violentadas e outras que tiveram medo de lá voltarem. O mais importante aqui não são os nomes ou os números que se dão a essa gente, é a acção dela.



A solução desse problema não é simplesmente negar a sua existência e fazer passar a ideia de que gente que não está a dormir para fazer patrulha sofre de alucinação colectiva.



O pânico instalou-se! As pessoas saíram à rua para fazerem o trabalho que aparentemente devia ser da Polícia!



Mesmo que seja apenas uma paranóia colectiva, qual é o papel de um Governo preocupado com o seu povo? Acho que é fazer o mesmo que um pai zeloso faz quando o seu fi lho tem medo do escuro, fazer de tudo para que sinta que ele está ao seu lado e que não há perigo. Mas não é isso que se está a ver. Estamos a assistir uma clara falta de respeito para com essas pessoas assustadas pelas notícias de assassinatos. Pior, é que o nervosismo que acompanha

os famosos grupos de patrulha torna estes violentos, cria-se um estado de sítio e um claro clima de guerra que resulta em morte de inocentes, pessoas que são simplesmente confundidas.



Ainda bem que os discursos do ministro e do comandante-geral da Polícia, Jorge Khalau tomou outro rumo, pois continuar a dizer que não existem esses grupos para depois os seus homens anunciarem a detenção de “perigosos cadastrados que assaltam residências e torturam

pessoas” seria caricato. Como podem deter pessoas que não existem? Um País como esta pátria amada, que se quer sério, precisa de polícias que garantam segurança e não que andam a deter fantasmas!