Comentador Das Bananas
“O conhecimento não se adquire
por numerosas narrativas,
mas seguindo o conhecimento
e usando-o.”
In As Noites das Mil e Uma Noites
do prémio Nobel de Literatura
Naguib Mahfuz
Desta minha Matola
Para Virgílio Sitole,
Esse filósofo da dança
que aprendeu a coreografar a vida
Meu companheiro, não fui ver teu bailado como havia prometido. Sabes qual é a minha opinião sobre a dança contemporânea. Acho que a minha sensibilidade não é civilizada para a dança contemporânea, ainda não me emancipei do xigubo já que me parece haver uma resistência dos nossos coreógrafos em contemporanizar as nossas danças tradicionais. Não é possível mano?
Mas um dia falamos disso.
Cá desta pátria do Índico, sabes companheiro, estamos a viver um forte momento eleitoral. Penso que dessa China onde te encontras escapas aos efeitos colaterais desta campanha desenfreada.
Mas não é a campanha meu companheiro que me deixa preocupado. Não são os discursos fervorosos dos políticos com as suas promessas utópicas que me desesperam. Não mano. As loucas promessas de bem-estar “se ganhar as eleições” é o papel dos políticos. Quando presto atenção a uma campanha eleitoral tenho de estar preparado para ouvir promessa de “escola a dois metros da minha casa” ou de “oferta de
O maior barulho é sobre a exclusão de uma série de partidos que se candidatavam para cadeiras de poder. É compreensível a raiva de João Massango quando decreta “o luto nacional” depois de quebrar-se o último galho de esperança que era o Conselho Constitucional.
Mas o que não dá para perceber são as visões unilaterais dos nossos comentaristas e jornalistas que se despem da “imparcialidade” e escolhem alvos a abater. Sei que me vais questionar acerca da imparcialidade pois já falamos algumas vezes sobre isso. E nessas nossas conversas já o assumi que a partir do momento que vivemos num meio nos deixamos envolver em companhias, consumimos o que a sociedade nos oferece, a nossa capacidade de ser imparcial enfraquece.
Mesmo assim mano, temos a obrigação de nos esforçar em direcção a imparcialidade. É isso que se exige do jornalismo e dos comentadores como agentes facilitadores de compreensão de fenómenos e infelizmente não é isso que está acontecer.
A nossa imprensa é feita de induções. Os nossos jornalistas transformaram-se
Ignoram o reconhecimento dois erros que esses partidos já vieram assumir porque já escolheram os seus tambores. Eles fazem os seus ritmos de vítima e convidam o eleitor a dançar numa coreografia pior que a da dança contemporânea do meu ângulo de visão é claro.
O engenheiro Venâncio Mondlane, o comentarista mais concorrido de momento, no seu esforço de neutralidade apareceu na STV a fazer um recorte daquilo que ele considera o mundo. Para ele em nenhum tribunal do mundo não se tomam decisões até altas horas, ou fora do horário normal do trabalho. É mano, deixava claro que o que ele nunca ouviu ou viu é porque não existe.
Como tantos outros comentadores de momento recorrem sempre a artigos para suportarem as suas opiniões. No entanto eles pegam os artigos como partes isoladas e não como partes integrantes de todo um pacote de lei.
Para mostrar o fracasso do CC, engenheiro Venâncio levou aos estúdios daquela estação emissora uma banana. Estava constantemente a apalpar o bolso como para certificar se ela não teria cedido a temperatura e amolecido. Depois a exibiu mostrando que estamos num país das bananas.
Claro que estamos num país das bananas. Quando temos comentadores e jornalistas que no lugar de ajudarem a compreender os fenómenos de uma forma global escolhem apenas partes para nos darem como verdades absolutas, não ajudamos a desenvolver esta pátria amada.
Eu acho Sitole, que este país está habituado a se fazer tudo sem se respeitar a lei. Estamos num país onde as pessoas estão preparadas a perdoarem a qualquer infracção em nome da estabilidade. Mas a nossa paz e liberdade não pode ser feita a custa da escravatura.
Alguns diplomatas vieram juntar suas vozes (largamente discutida aqui), a mais elevada e irritada delas foi do encarregado de negócios dos EUA, Todd Chapman que falava de uma democracia inclusiva. Hawena, é incluir só por incluir?
Penso que a democracia tem regras e todos as conhecem, assim como todos nós sabemos que as regras são para serem cumpridas.
Mas vamos vivendo esta saga eleitoral mano, com comentadores das bananas que se convencem que são— como diria personagem da telenovela Chocolate com Pimenta – donos e proprietários da verdade. Se esquecendo mano que a única vantagem que têm em relação aos outros é o acesso ao microfone e a páginas dos jornais.
Prometo mano ir ver a gala dos 30 anos da companhia. Mesmo que seja dança contemporânea, faço esse sacrifício para que me contes como são as chinesas.
Aquele abraço, desta pátria onde se o assunto for cuidar dela, me assumo parcial.
PC